São Paulo, quarta-feira, 27 de novembro de 1996
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Gincana do crediário antecede consumo

MAURICIO STYCER
DA REPORTAGEM LOCAL

Para alcançar o paraíso do consumo, o consumidor emergente é obrigado a se submeter a uma espécie de gincana no purgatório: a aprovação do crediário.
"É humilhante. Você está com tudo em cima e eles ficam desconfiados, fazendo perguntas. Mas não tem saída", lamenta a auxiliar de enfermagem Deise Aparecida Afrini, que acaba de apelar a um crediário para comprar um fogão e uma geladeira.
Um ato aparentemente simples, como a compra de um televisor de 14 polegadas, pode se transformar numa pequena epopéia e demorar até duas horas (veja nas fotos ao lado).
Nas grandes lojas, o consumidor disposto a levar um eletrodoméstico para casa em troca de 6, 12 ou 24 prestações passa por uma bateria de "provas", ignoradas pelo consumidor que paga à vista ou com cartão de crédito.
Primeiro, o vendedor pede documentos, como carteira de trabalho, de identidade e CPF, além de comprovantes de residência, ao futuro comprador.
Superado o vendedor, o quase consumidor é enviado ao crediário, onde aguarda ser chamado. Ali, os seus documentos serão conferidos por uma recepcionista, que, em seguida, o enviará de volta ao banco de espera.
Numa terceira etapa, o candidato ao consumo será submetido ao crivo do chamado analista de crédito -uma pessoa especializada em avaliar se o candidato ao consumo está falando a verdade e demonstra capacidade de honrar os seus compromissos.
"Não dá, né?"
Antes do quase consumidor se sentar diante do analista, alguns dados de sua vida, como o emprego que declarou ter, já foram checados por telefone.
"O cara ganha R$ 200 por mês e quer comprar uma TV de 29 polegadas. Não dá, né?", diz um analista de crédito de uma grande loja, que não tem autorização para dar declarações à imprensa.
"É chato isso. Parece que eles não confiam na gente", reclama, timidamente, a empregada doméstica Marinalva Oliveira Freitas, que na última quarta-feira enfrentou esta maratona para comprar o seu primeiro aparelho de televisão.

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