São Paulo, quarta-feira, 27 de novembro de 1996
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"Qualquer um pode fazer um filme", afirma Terry Gilliam

WAGNER ARAÚJO
FREE-LANCE PARA FOLHA, EM LONDRES

O ilustrador norte-americano Terry Gilliam foi para a Inglaterra para fugir dos Estados Unidos. "Como eu odiava o resto do mundo, só me sobrou a Inglaterra como um lugar onde eu pudesse falar inglês."
Lá, ele começou sua carreira no cinema, na co-direção de "Monty Python's Flying Circus", em 1969. Em seguida, dirigiu filmes como "Brazil" (85), "As Aventuras do Barão de Munchausen" (88), "O Pescador de Ilusões" (91) e, por último, "Os 12 Macacos" (95).
Com o lançamento do documentário de 90 minutos "The Hamster Fasctor" (96), do diretor Keith Fulton, sobre o trabalho de produção de "Os 12 Macacos", Terry foi convidado a participar do 40º London Film Festival, que terminou no último domingo.
Para quem viu alguns de seus filmes, a impressão é a mesma: imagens intrigantes, fantasia, loucura e humor.
*
Folha - É possível criar no cinema a fantasia da literatura?
Terry Gilliam - No meu trabalho isso é natural, porque eu sempre estive perto da literatura e das imagens, quando criança e como ilustrador. Eu desenhei todo o story-board do meu primeiro filme, "Jabberwocky" (77).
Folha - E como foi a passagem da ilustração para o cinema?
Gilliam - Trabalhar com Monty Python foi grande, uma festa. Mas, quando terminei "Jabberwocky", eu não podia assisti-lo, ficou uma grande merda. Foi a coisa mais estúpida que eu fiz na minha vida. Eu queria mudar tudo: a barba do ator, a textura, a cor.
Folha - Qual a conexão do filme "Brazil", que mistura terror e comédia, com Brasil, o país?
Gilliam - Nenhuma. O título original do filme era "Minister". Mas, nos anos 70 e 80, o Rio de Janeiro era um sonho, o escape.
Apesar de eu nunca ter ido ao Brasil, só na imaginação, acho legal ter o nome de um país no meu filme.
Folha - Dirigir filmes em Hollywood é uma forma de voltar aos EUA?
Gilliam - Eu não sou um diretor hollywoodiano. Eu fiz os meus dois últimos trabalhos -"O Pescador de Ilusões" e "Os 12 Macacos"- e estou envolvido em um novo projeto lá, mas eu odeio, estou cansado dos filmes americanos, em que tudo é possível de acontecer. Hollywood é estúpida.
Eles não trabalham com informações como "esse diretor é bom". Eles pensam no momento. "Vamos tentar o Terry", decidiram, quando não tinham outros diretores disponíveis para "Os 12 Macacos". Eu aceitei e gostei do trabalho porque trabalhei com atores talentosos.
Folha - Esse filme foi importante para toda a equipe envolvida?
Gilliam - Deu tudo certo, principalmente nas bilheterias, por isso foi importante. Bruce Willis estava desesperado para provar para todo mundo que ele era um ator sério, bem como Brad Pitt, que ficou sete semanas ensaiando, gravando tapes, para me provar que podia fazer o papel.
Folha - Como você vê o trabalho de um diretor de cinema?
Gilliam - Com tudo programado, story-board, cálculos, não há segredo, qualquer um pode fazer um filme. Qualquer tecnologia faz a vida mais fácil, apesar de em "Os 12 Macacos" ela parecer energia nuclear.
Penso que dirigir roteiros alheios é assumir responsabilidade por idéias, por sonhos dos outros, bem como acho perigoso pegar coisas da vida real e tentar transformar em filme, porque você pode desapontar pessoas.
Folha - Qual a sua posição quando criticam a violência em seus filmes?
Gilliam - Me ofereceram o roteiro de "Assassinos por Natureza", que é sensacional, mas não quis fazê-lo porque estava preocupado justamente com a violência. Eu não gosto de censores, mas acho que cineastas têm responsabilidade pelas mensagens que exibem.
Folha - Já tem título o seu novo filme?
Gilliam - Não posso contar por causa do contrato com o estúdio. O que sei é que, quando um projeto te entusiasma, fazer um novo filme é interessante porque você esquece todos os problemas e dificuldades dos anteriores e só lembra dos momentos de glória.

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