São Paulo, quarta-feira, 27 de novembro de 1996
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Privatização mal explicada

CARLOS HEITOR CONY

Rio de Janeiro - Muitas e complicadas coisas estão rolando no submundo das privatizações. Já não falo da Vale, filé mignon da barganha que, apesar de diariamente desmentida por FHC, será reduzida a um prato de lentilhas. O dá lá, toma cá, que estão atribuindo ao seráfico Francisco de Assis, é bem mais antigo.
Não estou informado o suficiente para entrar em detalhes, mas tornou-se evidente que há algo de muito podre no caso da privatização do Banerj. Somando-se tudo de ruim que aconteceu no banco, desde a sua fundação, ainda assim o prejuízo histórico é irrisório diante das cláusulas que o governo do Rio de Janeiro deu ao grupo Bozano, Simonsen para efetivar a privatização.
Tudo será pago pelo próprio banco em dificuldade para enriquecer um grupo que ganhou de mão beijada uma função saneadora para a qual a única credencial foi a intimidade com o grupo ligado ao Palácio Guanabara.
A arrogância do grupo, confiado no apoio palaciano, recusa-se a explicar os muitos furos da operação. Os desmandos havidos no Banerj, em sucessivas administrações, bem ou mal resultavam em algum lucro para a população, ainda que houvesse superfaturamento de orçamentos, apadrinhamento de pessoas ligadas aos poderosos da ocasião. Enfim, uma série de mumunhas que sempre resultavam numa bica d'água colocada numa favela, num posto de saúde superfaturado na Baixada, num conjunto habitacional feito com péssimo material.
No caso do Bozano, Simonsen, nem essas migalhas chegam ao povo fluminense. A limpeza do Banerj tem um preço exorbitante e vai tudo para o bolso do próprio grupo interventor. Não se trata de questionar a legalidade do ato que deu tamanho poder a um banco particular de intervir em um banco estatal. A simples enunciação do esquema já é suspeita.
Pior do que suspeita é a operação em si, feita à revelia da simples e necessária moralidade administrativa.

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