São Paulo, quinta-feira, 28 de novembro de 1996
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Torcedores do Flu causam tumulto

MÁRIO MAGALHÃES
DA SUCURSAL DO RIO

A manifestação com cerca de 150 torcedores do Fluminense ontem de manhã, nas Laranjeiras (zona sul do Rio), retratou o desespero do clube com a queda para a segunda divisão do Campeonato Brasileiro.
Dezenas de tricolores tentaram agredir três adolescentes, acusando-os de torcer para o rival Flamengo, embora estivessem pedindo autógrafos para os jogadores.
Os garotos foram salvos por funcionários do clube. Entre os briguentos, havia jovens com a camisa da "Torcida da Paz".
À tarde, o Tribunal Especial da CBF abriu inquérito sobre suposto favorecimento do árbitro Marques Dias da Fonseca ao Bahia, na vitória de 3 a 2 sobre o Vasco.
Eventual punição ao clube baiano salvaria o Fluminense, mantendo-o no grupo de elite do futebol brasileiro.
Os torcedores foram ao estádio atendendo à convocação do técnico-atleta Renato Gaúcho, o principal apóstolo da subversão do regulamento do campeonato.
Nenhum diretor ou personalidade compareceu ao ato -o ator Mário Lago e o técnico Telê Santana, tricolores ilustres, se opõem à "virada de mesa" para evitar o rebaixamento.
Com uma dívida de pelo menos US$ 20 milhões -só uma auditoria poderá precisar o valor exato-, o clube deposita na reunião do Clube dos 13, amanhã, a esperança de sobreviver na primeira divisão.
Saudosismo
"Jamais vi o time assim", dizia Gabriel Nascimento, 72, tricolor há 61 anos. Ele passou a manhã recordando o passado e lamentando o presente.
"Quando um jogador do Flamengo pendura as chuteiras, ou até a cueca, há sempre festa. Mas ninguém se lembra de que o nosso supercampeonato está fazendo bodas de ouro", disse, referindo-se ao título carioca de 1946.
O clube já foi tão sofisticado -e racista-, que um jogador mulato usava pó-de-arroz no rosto e nos braços para disfarçar a cor da pele.
Hoje a torcida é menos fidalga. Ontem, atacou o ex-presidente Gil Carneiro de Mendonça: "Ão, ão, ão, Gil Carneiro na prisão."
No gramado, orgulhoso, César Roberto Faulhaber, 50, exibia o neto Matheus, de 1 ano e seis meses: "Quem é o nosso ídolo?" "Gaúcho", respondia o menino, alegrando o avô.
No Campeonato Brasileiro, Renato Gaúcho se transformou em técnico-jogador. Agora, falando pelo clube, é dirigente. Para os torcedores, o fio de esperança.
Pouco antes de ir embora, Renato ganhou de um ex-diretor um broche com o escudo do Fluminense, forjado em 1952. O medo do futuro, agora, faz o clube viver do passado.

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