São Paulo, quinta-feira, 28 de novembro de 1996
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Novela cerca de mistério relação Eu-Outro

FRANCISCO ACHCAR
ESPECIAL PARA A FOLHA

A poesia é a parte mais importante da obra de Mário de Sá-Carneiro (1890-1916), e em seus poemas um tema frequente é o Outro -a complicada relação de alteridade (a relação com o Outro), feita de oposição e identificação, assim como a impossibilidade de atingir e possuir o Outro, que é objeto do desejo. Disso resulta estranhamento do Eu, ou seja, o Eu aparece como Outro.
Esses temas são também centrais em "A Confissão de Lúcio" (1914), uma narrativa em prosa que se pode chamar novela (isto é, uma narrativa mais breve e de ingredientes menos numerosos do que um romance, mas mais longa e mais complexa que um conto). Nela, temos a estranha história de um homem, Lúcio, que acaba de sair da prisão, onde passou dez anos, e resolve fazer sua "confissão" -não a confissão do crime pelo qual foi condenado, e que ele diz não ter cometido, mas o relato da experiência de "um instante que tocou toda a sua vida", fazendo-o chegar ao "sofrimento máximo", depois do qual "nada já nos faz sofrer".
A história de Lúcio se passa em Paris, em ambientes de extrema sofisticação e mesmo perversão, envolvendo artistas da moda, pessoas refinadas e entediadas, milionárias lindas e lésbicas e, no meio de tudo isso, a relação equívoca entre Lúcio, Ricardo e a bela mulher deste, Marta.
Esta prosa insiste em metáforas arrojadas, que visam à expressão de sensações incomuns, com muitos elementos do que se convencionou chamar "Decadentismo": refinamento extremado, complexidade, indefinição e gosto pela representação de experiências intensas e "anormais".

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