São Paulo, quinta-feira, 28 de novembro de 1996
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Di Cavalcanti é a estrela na Christie's

CLÁUDIA TREVISAN
DE NOVA YORK

O pintor brasileiro Emiliano Di Cavalcanti (1897-76) foi a grande estrela do leilão de arte latino-americana realizado anteontem em Nova York pela Christie's.
"Mulheres com Frutas" (1932) foi vendido por US$ 590 mil, três vezes a avaliação máxima da Christie's. Se for incluída a comissão cobrada pela casa, o preço sobe para US$ 651,5 mil, ou quase quatro vezes a estimativa máxima.
A Christie's cobra 15% sobre o valor até US$ 50 mil e 10% sobre o que ultrapassar esse teto. As avaliações feitas pela casa não incluem a sua comissão.
O preço de "Mulheres com Frutas" é o segundo maior já alcançado por obras de pintores brasileiros em toda a história.
O recorde é do quadro "Abaporu", de Tarsila do Amaral, vendido ano passado por US$ 1,3 milhão ao colecionador e banqueiro argentino Eduardo Constantini, o mesmo que comprou "Mulheres com Frutas" anteontem.
Constantini também arrematou "Mulheres de Pescadores" (1966), outra obra de Di Cavalcanti, por US$ 260 mil, 2,2 vezes a avaliação máxima da Christie's.
"Onde eu Estaria Feliz" (1965) é a outra obra do pintor brasileiro entre as dez mais caras. Ela foi comprada por um colecionador norte-americano por US$ 270 mil. A obra ilustra a capa do catálogo dedicado à Coleção Landau do leilão.
Constantini estava decidido a arrematar os dois quadros de Di Cavalcanti, mas esperava pagar no máximo US$ 500 mil por "Mulheres com Frutas". Em sua opinião, a noite foi "um êxito" para o Brasil. "A melhor parte do leilão foi a pintura brasileira, que vendeu muito bem", disse. Constantini tem cerca de 130 quadros de artistas latino-americanos.
"Comprei Di Cavalcanti pela qualidade, força e expressão dos quadros", afirmou o argentino depois do leilão.
Os quadros de Di Cavalcanti faziam parte da coleção de Aleksander e Lucja Landau, judeus poloneses que emigraram para o Brasil na Segunda Guerra Mundial.
O casal Landau morreu sem deixar herdeiros. Em seu testamento, determinaram que a coleção fosse vendida e os recursos doados a três instituições judaicas de São Paulo: Hospital Albert Einstein, União Brasileira Israelita do Bem Estar Social e Sociedade Religiosa e Beneficente Israelita Lar dos Velhos.
A Christie's esperava arrecadar US$ 961 mil com a venda dos 26 quadros da coleção Landau. O resultado final foi US$ 2,1 milhão -incluída a comissão da casa, mais que o dobro do esperado.
O leilão foi considerado excepcional pela diretora do Departamento de Arte Latino-Americana da Christie's, Lisa Palmer.
A coleção Landau tinha ainda sete obras de Portinari (1903-62), uma de Alfredo Volpi (1896-1988) e três do mexicano Diego Rivera (1886-1957).
Além da coleção Landau, foram leiloadas outras 54 obras de artistas latino-americanos, incluindo um quadro de Portinari e outro de Tarsila do Amaral.
A grande decepção da noite foi o quadro do colombiano Fernando Botero "La Familia" (1969), que acabou não sendo vendido.
A obra de Botero recebeu a maior avaliação entre todas as que seriam leiloadas: US$ 1,5 milhão. O lance máximo foi US$ 500 mil. Segundo Palmer, isso ocorreu porque o quadro foi restaurado e apresentava problemas.
O quadro de Portinari, "Menina" (1948), foi arrematado pelos marchands cariocas Jones Bergamin e Frederico Seve ao preço de US$ 60 mil (sem a comissão). A obra estava avaliada entre US$ 40 mil e US$ 45 mil.
"Três Nus" (1923), de Tarsila do Amaral, que estava avaliado entre US$ 60 mil e US$ 80 mil, foi vendido a US$ 55 mil.
Todo o leilão alcançou US$ 7,2 milhões. A expectativa da Christie's era de US$ 6,6 milhões.
(CT)

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