São Paulo, quinta-feira, 28 de novembro de 1996
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Dança Burra explora falta de comunicação

ANA FRANCISCA PONZIO
ESPECIAL PARA A FOLHA

O Festival Internacional de Dança (FID), que começou terça-feira no Sesc Ipiranga, em São Paulo, prossegue hoje com novo programa.
"O Nervo da Flor de Aço", de Marcelo Gabriel, do grupo Dança Burra, representa o Brasil. Da Eslovênia, a companhia En-Knap apresenta "Sting and String - First Touch".
Ambos revelam as inquietações de uma nova safra de criadores, cujos experimentalismos já sucedem o pós-modernismo.
O mineiro Marcelo Gabriel, 25, deu o nome de Dança Burra à companhia, que hoje se reduz a ele mesmo, porque pretendia resgatar a espontaneidade da expressão cênica.
"Queria ir contra a inteligência estabelecida e formal que normalmente cerca as produções artísticas", ele diz.
Disposto a desestruturar a percepção do espectador, que segundo ele tende a ser viciada, Gabriel nega os elementos que normalmente compõem um espetáculo.
Com a mesma roupa que usa no dia-a-dia, ele entra em cena, sem fazer uso de cenários, figurinos ou efeitos de luz.
"Não me interesso muito por mise-en-scène. A dança, quanto mais técnica, mais perde o contato com o real, tornando-se formalista demais."
Em "O Nervo da Flor de Aço", ao som de músicas criadas por ele mesmo, Adriano Cintra e Laura Finocchiaro, Gabriel mais uma vez faz da denúncia social o canal para atacar hipocrisias.
Tomando como símbolo o golpe militar de 1964, ele envereda pelos obscurantismos que, segundo ele, ainda rondam a sociedade brasileira.
"Essencialmente, exploro as dificuldades de comunicação de nossa época, a despeito de todos os recursos tecnológicos. Para expressar esses limites no movimento, danço como se meu corpo não pudesse se descolar do chão, como se o peso da gravidade fosse maior do que é", explica.
Eslovênia
Também recusando padrões, o grupo esloveno En-Knap procura estruturas e elementos antagônicos, sejam movimentos, música ou espaço cênico.
Sediado em Liubliana, capital da Eslovênia, o grupo é dirigido por Iztok Kovac. Para ele, a era do coreógrafo como único mentor de um espetáculo está no fim.
Kovac acredita, acima de tudo, que o coreógrafo deve atuar como coordenador, capaz de promover a interação dos bailarinos, tratados como co-autores.
O encontro de antagonismos está presente em "Sting and String", que conta com música ao vivo, de autoria do compositor sérvio Boris Kovac.
Incluindo intervenções sonoras, a composição é interpretada pelo quarteto de cordas Enzo Fabiani.
Paralelamente à programação de espetáculos, o Festival Internacional de Dança vem realizando workshops com os grupos participantes.
Hoje e amanhã, às 9 horas, o grupo austríaco Tanz Hotel enfoca improvisação e movimentos corporais baseados no espetáculo "Time Sailors", que inaugurou o festival.
Às 14 horas, o turco Mehmet Sander demonstra em seu workshop a dança de alto impacto que marca suas coreografias.

Evento: Festival Internacional de Dança (FID)
Onde: Sesc Ipiranga (rua Bom Pastor, 822, Ipiranga, região sul de São Paulo, tel. 273-1633)
Quando: até 6 de dezembro, 21h (exceto dia 1º, às 20h)
Quanto: R$ 8 e R$ 4 (estudantes e pessoas acima de 55 anos); grátis para comerciários

Texto Anterior: Constantini vai expor em SP
Próximo Texto: Fragmentação marca dança de novos autores
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.