São Paulo, quinta-feira, 28 de novembro de 1996
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Astrônomo e filósofo debatem 'A Verdade'

PATRICIA DECIA
DA REPORTAGEM LOCAL

O astrônomo Ronaldo Rogério de Freitas Mourão e o filósofo Roberto Romano discutiram anteontem sobre "A Verdade", no último programa da série "Diálogos Impertinentes" de 96.
A discussão sobre a existência de verdades absolutas e o conceito de verdade aplicado às descobertas e progressos da ciência foram dois dos principais pontos do debate.
Apesar de demonstrar a relatividade das descobertas científicas, Mourão -o primeiro brasileiro a ter seu nome dado a um asteróide- recorreu várias vezes à oposição entre ciência e misticismo em todas as suas formas, como religião ou ufologia e astrologia, para responder a várias questões.
Esses dois últimos exemplos foram definidos por ele mais como comportamentos sociais do que como objeto de interesse da ciência. Segundo o astrônomo, eles não devem ser ignorados, mas estudados por antropólogos e psicólogos, onde ganhariam valor.
Astrônomo e filósofo condenaram o uso do marketing por cientistas e pensadores, processos que terminam criando dogmatismos e o que Romano chamou de "a crença no grande especialista".
"O dogmatismo científico é até mais perigoso do que o religioso. O debate científico é substituído hoje pela simples divulgação da ciência", afirmou Mourão, corroborando as idéias do filósofo.
Quando perguntado sobre a questão do marketing político, Romano afirmou que a opinião pública tende a aceitar determinadas verdades em detrimento da discussão e comparou o marketing político ao ópio e outras drogas alucinógenas.
Segundo ele, por um tempo essas drogas foram consideradas facilitadoras da criação. "Pensamento é trabalho e é muito doloroso", disse o filósofo.
No final do debate, durante a sessão de perguntas, Romano, professor de filosofia da Unicamp (Universidade de Campinas), deu sua definição da verdade, provocado por um espectador que reclamou da erudição da discussão. Ele havia citado vários filósofos, como Hegel, Kant e Diderot, durante suas respostas.
"Acredito efetivamente que a verdade é um processo de pensamento e de expansão da alegria e de expansão da felicidade de pensar e da falta de limite do pensar. Sem injunções de crenças ou de atitudes ideológicas ou coisa parecida", afirmou Romano.
O debate teve mediação do ombudsman da Folha, Marcelo Leite, e de Mário Sérgio Cortella, professor do departamento de Teologia da PUC de São Paulo, e foi transmitido ao vivo, do teatro do Sesc Pompéia (zona oeste de SP), pela TV PUC, canal 20 da Net.
A série é realizada com apoio da Folha, da PUC (Pontifícia Universidade Católica) de São Paulo e do Sesc (Serviço Social do Comércio). Os "Diálogos Impertinentes" voltarão a ser realizados em 97, discutindo temas como "O Ciúme".

Texto Anterior: O diário culinário de Jean-Paul Sartre
Próximo Texto: Voz é trunfo de Zélia Duncan em 'Intimidade'
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.