São Paulo, quinta-feira, 28 de novembro de 1996
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PIZZA À PAULISTA

Está no forno a "pizza" em que se transformou o caso Banespa. Depois de dois anos de uma intervenção que até hoje não mostrou a que veio e de prejuízos operacionais e ficções contábeis -período em que os governos estadual e federal digladiaram-se sobre o vazio, tripudiando sobre a expectativa da sociedade de soluções urgentes para o problema-, cria-se um "grupo de trabalho" e se assina uma "carta de intenções".
Faltou coragem ao governo federal, desde a época em que o atual ministro da Fazenda era presidente do Banco Central, para liquidar uma instituição sem razão de ser, administrada irracionalmente ao longo de vários mandatos de governadores.
Atitude de injustificada timidez que, diga-se, foi habitual nos últimos anos tanto com relação a outros bancos públicos, estaduais e federais, como em face de descalabros notórios (reconhecidas pela autoridades) em bancos privados como o Nacional ou o Econômico.
Os bancos estaduais são, por definição, uma excrescência. Como pode ser levada a sério uma instituição financeira cujo principal devedor foi por muitos anos o próprio acionista controlador? Os governos estaduais usaram o banco para angariar recursos financeiros. Não pagaram as dívidas. Mas acabaram produzindo fantasiosas rolagens das mesmas, a taxas de juros mais que escorchantes que, lançadas a balanço, dão a ilusão de lucros extraordinários.
Mesmo hoje, sem poder endividar-se por essa via, esses bancos vivem submetidos a conveniências de ordem política.
O "acordo" entre governos federal e estadual inclui ainda uma série de outras providências que servem apenas para dar mais tempo ao tempo. Como a hipótese de entregar o Banespa a uma administração privada por um ano, procedimento que no caso do Banerj tem sido objeto de críticas e até de suspeitas crescentes.
Não teria sido mais barato, mais racional e mais honesto simplesmente liquidar instituições inviáveis (preservando os direitos dos pequenos depositantes)? Registre-se que o governador de São Paulo, Mário Covas, revelou em todo o episódio uma estranha e inaudita obstinação.
Toda a encenação produzida ontem, protagonizada pelas mais altas autoridades financeiras do país, reduz-se na verdade a uma protelação por mais um ano desse cabo-de-guerra que onera os contribuintes -e não apenas os paulistas.

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