São Paulo, quinta-feira, 28 de novembro de 1996
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Dar e tomar

CARLOS HEITOR CONY

Rio de Janeiro - Uma das jóias do anedotário judaico, do qual Woody Allen é cultor e propagador, conta a história do Isaac que abordou o amigo Jacó e comunicou: "Jacó, minha alma está triste, soube que seu filho está dando!". No dia seguinte, Jacó procurou Isaac, exultante: "Isaac, você estar enganado, meu filho não estar dando, meu filho estar tomando!".
A semântica também pode explicar as complicadas relações da globalização. Até a Segunda Guerra Mundial, havia países imperialistas que exploravam colônias, permitindo-lhes o uso da bandeira e do hino nacionais, mas com presença de um governador que representava e gerenciava os interesses da metrópole.
Um esquema que teve sua máxima expressão no Império Romano. As províncias (ou colônias) davam a César o que era de César.
A globalização no fundo é a mesma coisa, sem onerar as metrópoles com a despesa de manter governador e tropas para garantir a "pax" imperial.
É fácil imaginar o ministro da Fazenda do Zaire e o presidente do Banco Central da Etiópia sentados lado a lado dos banqueiros equivalentes dos Estados Unidos, Japão, Alemanha etc. Têm direito ao mesmo copo de água, ao bloquinho para apontamentos, a dois ou três assessores sentados adredemente para consultas e informações.
Como a economia tende a ser uma só, não havendo espaço para aventuras isoladas, com todo mundo querendo comprar de tudo pelo menor custo e vender com o maior lucro, fica difícil entender como a economia do Zaire ou da Etiópia se comportarão diante das economias globalizadas.
A Alemanha pode oferecer a custo baixíssimo aqueles enfeites de árvore de Natal -que o parque industrial do Zaire ou da Etiópia, sem interesse pela festa cristã, produziria a um custo exorbitante.
Para usar a imagem consagrada pelo meu amigo Roberto Campos -somente os dinossauros do Zaire e da Etiópia poderão ser contra a globalização.

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