São Paulo, sexta-feira, 29 de novembro de 1996
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Luta faz teatro para atrair fãs

MAURO TAGLIAFERRI
DO ENVIADO ESPECIAL A GOIÂNIA

"Respeitável público! Esqueça o Bruce Lee, Van Damme, os Astros do Ringue, o Rocky Balboa. Vem aí o maior espetáculo da Terra: a luta olímpica!"
A fala já está na cabeça de Hugo Nakamura, 56, presidente da Confederação Brasileira de Luta Olímpica e sintetiza o projeto de expansão de um esporte que, hoje, conta com 1.100 atletas federados no país. A luta apelará para o show.
E, como o mestre que ensina ao "gafanhoto" por meio de comparações, Nakamura raciocina. "O que o caratê faz? O sujeito dá um soco e faz uma cara feia", diz.
"Você vê o (Emerson) Fittipaldi. Ele não está mais na idade de competir, mas aparece o tempo todo na mídia, até se casa no Vaticano."
E segue. "Veja o que aconteceu à Igreja Católica em relação a todas essas novas religiões. Ela se acomodou e perdeu espaço. Nós também nos acomodamos em relação às outras lutas."
E conclui. "Temos de estudar a cultura do povão. Faremos shows antes da luta principal. O caratê faz o 'kata' (espetáculo) antes dos combates. Os japoneses usaram uma boa isca, o pessoal gosta de mistério, misticismo. Se você toca um gongo e diz que está lutando contra os espíritos do Mal, o povo aprecia."
"Vou pegar uns caras para dar saltos, levantar pesos. Faremos a exibição e explicaremos ao público o que é show e o que é luta. E, assim, colocaremos o esporte na mídia. O fundamental é muita imprensa, TV, rádio, o que for."
Terreno
Nakamura procura recuperar um terreno perdido -há muito tempo. Na Grécia antiga, o lutador era o paradigma de beleza, pela força, elegância e equilíbrio.
A própria luta merecia destaque entre os cronistas da Antiguidade, não pelo massacre, mas pela plasticidade. A modalidade gerou os dois tipos de luta olímpica atuais.
Tanto na luta livre como na greco-romana, o objetivo é encostar totalmente as costas do adversário no chão. Ou aplicar golpes suficientes para somar 15 pontos.
A diferença é que a greco-romana veta usar as pernas e segurar o adversário abaixo da cintura.
A violência continua sendo evitada, tanto que chaves e estrangulamentos são proibidos. O status da luta é que não é mais o mesmo.
O esporte ainda produz ídolos, como o russo Alexander Karelin, o campeão olímpico que conduziu a bandeira de seu país na abertura dos Jogos de Atlanta. Mas está longe de ser a vedete de antes.
Quanto ao Brasil, a última participação olímpica aconteceu em Barcelona-92, a convite. O país recebeu proposta para levar um lutador a Atlanta, mas o COB vetou.
Para conduzir um atleta seu a Sydney, Nakamura, um ex-instrutor de defesa pessoal do Exército e das polícias Militar e Federal, firmou um convênio com a Universidade Federal de Goiás para contratar técnicos do exterior.
Conta, ainda, que faz "marcação cerrada" no governo federal, à cata de verbas. Até a fundação, em 89, da confederação em Goiânia tem propósito político.
"Goiás é o quintal de Brasília", afirma. E tenta, do sobrado verde, no centro da cidade, onde funciona sua academia e a confederação, transformar Goiânia na capital brasileira da luta.
Aproveitou o programa de escolinhas de iniciação esportiva da prefeitura para levar a modalidade às crianças da periferia. Até o final de outubro, quando as aulas deste ano se encerraram, 18 das 76 escolas ofereciam aulas de luta.
"Os alunos ganham a malha (uniforme), transporte, lanche, prêmios em torneios e não pagam pelas aulas", declara.
Sonha, ainda, com a construção de um ginásio para competições. Segundo ele, o projeto já conta com apoio do governo estadual.
Por fim, Nakamura leva a reportagem da Folha ao local onde erguerá seu castelo -ao lado do mal conservado estádio olímpico, no centro da cidade-, palco de seus grandes shows.
(MT)

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