São Paulo, sexta-feira, 29 de novembro de 1996
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'Davis' pedem material

MAURO TAGLIAFERRI
DA REPORTAGEM LOCAL

"Bad o quê?!" A estatística Hao Min Huai, 29, conta que sempre ouve a pergunta ao chamar alguém para ver uma partida do esporte que pratica, o badminton.
"Eu falo que se joga com uma raquete e uma peteca, numa quadra parecida com a do vôlei. Eles nunca ouviram falar", disse Huai.
No mundo todo, estima-se haver 150 milhões de praticantes da modalidade. Mas, no Brasil, com 400 adeptos, pertence ao grupo dos esportes olímpicos com menos atletas inscritos em sua confederação.
O pentatlo moderno tem um número ainda menor, 50 federados. O badminton é o quarto colocado entre os "Davis" do esporte nacional, à frente de esgrima (258) e levantamento de peso (200).
O "Golias" é o judô, com 210 mil esportistas federados e, pelas contas de sua confederação, 2,5 milhões de praticantes no país.
Curiosamente, o futebol -esporte de maior interesse em Atlanta para 49% dos paulistanos, segundo o Datafolha- é a quinta modalidade, pelos números da CBF (21.179). Levantamentos paralelos, no entanto, revelam que podem ser 576.400 os futebolistas.
O futsal é outro gigante, com cerca de 200 mil atletas inscritos na confederação, só que não integra a lista dos esportes olímpicos.
Mas os pequeninos querem crescer e se programam para os Jogos de Sydney. Nos relatórios que começam a ser enviados ao Comitê Olímpico Brasileiro, além dos planos, uma lista de reclamações.
Problemas
As queixas dos dirigentes podem ser resumidas a três categorias: o custo do material necessário ao esporte, a falta de treinadores especializados e a desinformação.
O último quesito mereceu a análise mais simplista: os meios de comunicação não dão espaço aos esportes "pequenos", condenando-os à eterna pequenez.
O presidente do COB isenta a imprensa. "Há esportes que têm dificuldade de aparecer. Não se consegue nivelar a divulgação", afirmou Carlos Arthur Nuzman.
O peso dos demais argumentos é maior. Basicamente, falta dinheiro. Na maioria dos casos, as confederações vivem de verbas do Instituto Nacional de Desenvolvimento do Desporto (Indesp), do COB ou de taxas pagas pelos afiliados. Raros são os casos de patrocínio.
O orçamento apertado compromete a aquisição de equipamentos nas modalidades em que o produto nacional tem baixa qualidade.
É o caso do levantamento de peso, que só usa material importado. Um set de barras e pesos sai por US$ 7.000, com os impostos.
Pior, a última importação ocorreu em 81. E, ainda assim, porque a federação internacional doou os apetrechos. A Villares cogitou fabricar barras no Brasil, mas concluiu que não haveria demanda.
Na ginástica, importar um conjunto de aparelhos custa US$ 90 mil. Os nacionais têm desempenho inferior e preço superior.
No remo, os barcos usados no Brasil, de fabricação argentina, perdem em velocidade para os alemães, italianos e americanos. "Quando você não tem um bom material, parece que os atletas é que são ruins", disse o presidente da confederação, Rodney Araújo.
No tiro, o monopólio da Companhia Brasileira de Cartuchos obriga os atletas a adquirirem até munição no exterior.
O apelo à importação bateu também à porta dos recursos humanos. Os cursos de educação física brasileiros só formam técnicos para os esportes mais populares.
A esgrima, por exemplo, está trazendo mestres d'armas de Cuba, assim como a confederação de canoagem, que "importou" o técnico William Flores, além dos poloneses Zdzislaw Szubski e a mulher dele, Miroslawa.
Para quem não tem verbas para chamar treinadores no exterior, vale o improviso. "A gente não tem técnico. Os mais experientes ensinam e corrigem os novatos", contou Huai, integrante da equipe brasileira de badminton.
Bad o quê?!
(MT)

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