São Paulo, sexta-feira, 29 de novembro de 1996
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Gustavo Borges, 10, nada em Palmas

MAURO TAGLIAFERRI
DO ENVIADO ESPECIAL A PALMAS (TO)

Aos 10 anos, o nadador Gustavo Borges já atingiu a segunda colocação do ranking brasileiro, categoria mirim-2, nos 50 metros livre.
Não, não se trata de notícia velha, dos tempos que o três vezes medalhista olímpico brasileiro dava suas primeiras braçadas.
A história se repetiu -ou parece desejar se repetir- na capital do mais novo Estado do país, Palmas, Tocantins.
Filho do engenheiro João Batista Borges e da advogada Leusa Maria da Silva Borges, Gustavo começou a nadar aos 6 anos para combater uma bronquite.
Curado, participou aos 8 anos do primeiro torneio. Venceu, com tempos abaixo dos registrados pelos colegas mais velhos. "A gente levou um susto", lembra o pai.
Desde então, não parou de evoluir. A marca de 32s68, que lhe garante o segundo posto no ranking nacional, corresponde à classificação do primeiro semestre.
Mas, na sua última competição, o Festival Centro-Oeste de Clubes, em Goiânia, no mês passado, seu tempo nos 50 metros livre já era de 31s69, o que lhe assegurou a vitória e a perspectiva de passar ao primeiro lugar no ranking referente ao segundo semestre (ainda não divulgado pela Confederação Brasileira de Desportes Aquáticos).
No mesmo festival, ainda arrebatou o ouro nos 50 metros borboleta. O bom desempenho rendeu um outdoor improvisado na avenida central de Palmas, próximo ao palácio do governo.
A placa, oferecida pelo patrocinador, a estatal de energia elétrica Celtins, saúda Gustavo como "orgulho da natação tocantinense".
Rendimento assim é raro em Tocantins. Criado há oito anos, o Estado ainda não tem representantes próprios no esporte de alto nível. O próprio Gustavo, mais velho que Tocantins, nasceu em Goiânia.
A Diretoria Estadual de Desporto concentra esforços no incentivo à pratica esportiva estudantil.
"Nossa maior deficiência está nos esportes de rendimento. Só 10% dos nossos profissionais de educação física são formados", contou Weber Franco Villas Boas, diretor de Desporto do Estado.
Palmas não possui clubes, nem estádio de futebol. Também não há piscinas do governo. Na capital, a única piscina de 25 metros disponível é a da academia Tubarão, onde Gustavo treina -de graça.
O nadador se mudou, com os pais, para Palmas em 91. E, se continuar sobressaindo, não permanecerá muito tempo na cidade.
"A gente pensa em sair daqui ou mandá-lo treinar em outro lugar. Não há muita opção de piscinas e professores", disse João Borges.
O apoio que a academia dá a Gustavo faz parte de uma rede de patrocínio montada pelo pai do nadador. A Celtins dá ajuda de custo mensal de R$ 150,00. A empresa aérea TAM cedeu passagens para ele competir em Goiânia.
A escola Recreio, em que Gustavo cursa a quinta série, dá desconto de 50% (R$ 80,00) na mensalidade. No total, entre o que se ganha e o que se economiza, Gustavo "rende" R$ 280,00 por mês.
Um pouco alheio a tudo isso, o nadador conta que se interessa por outros esportes. "Gosto de andar de patins, mas meu pai fica bravo porque machuco os joelhos. Também quero jogar tênis de mesa."
Disciplinado, o menino nada de 1 a 2,5 horas por dia. Só mata treinos em ocasião de provas escolares -"Gosto mais de nadar, mas tenho de estudar também".
Prepara-se, agora, para mudar para a categoria petiz-1, em que participará de provas de até 400 metros. "Antes, só nadava 50 metros. Agora, estou treinando mais a resistência", afirmou.
E, já que se apronta para vôos mais altos, impõe a própria personalidade. "O nome não é igual. O meu é Gustavo Rodrigues Borges", disse, referindo-se ao sobrenome herdado dos avós paternos.
(MT)

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