São Paulo, sexta-feira, 29 de novembro de 1996
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Exército toma o pentatlo

MAURO TAGLIAFERRI
DO ENVIADO ESPECIAL AO RIO

"Caçula" da família dos esportes olímpicos no Brasil, o pentatlo moderno acaba de sofrer uma intervenção militar.
Com apenas 50 atletas registrados na Confederação Brasileira de Desportes Terrestres, a modalidade padece dos mesmos males que seus irmãos com poucos praticantes: faltam recursos, locais e materiais adequados e técnicos.
Composto por esgrima, tiro, natação, corrida e hipismo, o pentatlo moderno nacional participou de competições olímpicas pela última vez em Tóquio-64.
Para voltar a disputar uma Olimpíada, em Sydney-2000, o esporte foi buscar nos quartéis o auxílio de um parente bem-sucedido, o pentatlo militar, modalidade cuja hegemonia mundial o Brasil divide com a China há 12 anos.
A união será produto de um namoro longo, promovido pelo major José Freire Lima, 43, hoje técnico da equipe brasileira de pentatlo militar, e diretor de pentatlo moderno da CBDT de 1992 a 93.
"Saí por falta de apoio", disse, sobre os poucos resultados de sua gestão. Agora, Freire Lima tenta aplicar sua experiência no campo militar ao pentatlo moderno. "Nosso sonho é formar uma seleção em 97 para levá-la à próxima Olimpíada. Chegaríamos lá já com chances de medalha."
O ponto de partida é o próprio time do pentatlo militar, dono de três dos sete títulos mundiais disputados nos anos 90: Alemanha-90, Noruega-91 e Brasil-94. Conquistas que se unem às quatro anteriores: Brasil-60, Holanda-65, Brasil-85 e Suécia-87.
"Temos muitos atletas que, se forem para o pentatlo moderno, teriam excelentes resultados", declarou o major, que treina seus comandados entre o morro do Pão de Açúcar e a baía de Guanabara, cenário do Centro de Capacitação Física do Exército, no Rio.
Mesmo a CBDT reconhece que seus principais esportistas são ligados às Forças Armadas. Só que a entidade tem dificuldades em liberá-los para a participação em torneios internacionais.
Assim, os praticantes se sentem atraídos pelas glórias do "primo rico", o pentatlo militar, que reúne as provas de tiro (fuzil), pista (simulador de um campo de batalha, com rastejo, saltos e escaladas), natação com obstáculos, lançamento de granadas e corrida (8 km, em terreno acidentado).
Conversão
O primeiro indício de que o Exército passará a se dedicar à modalidade olímpica é a autorização para enviar uma equipe ao Mundial de pentatlo moderno do Conselho Internacional de Desporto Militar, em 97. O sinal verde veio da Comissão Militar Desportiva do Brasil, ligada ao Estado Maior das Forças Armadas.
O passo seguinte é adequar os atletas às novas provas. O Centro de Capacitação Física já tem equipamentos para as cinco modalidades do pentatlo moderno.
"As provas são inerentes ao Exército. Não é qualquer um que tem onde fazer equitação e esgrima", disse Freire Lima.
"O material do pentatlo moderno é caro, e você não o acha em todo clube. Mais fácil encontrá-lo nos quartéis", concordou Newton Necchi, 60, presidente da CBDT.
Outra mudança é o tempo de disputa, mais compacto e extenuante. As provas militares duram de três a cinco dias. O pentatlo moderno passou a ocorrer em um só dia pela primeira vez em Atlanta-96.
"Para mim, só falta aprender equitação e me adaptar à pistola de ar comprimido", contou o cabo Luiz Carlos de Lima, 33, pentatleta da seleção brasileira militar. "Já aprendi esgrima num curso oferecido pelo Exército."
Também Necchi diz não ver dificuldades na conversão dos esportistas, desde que já apresentem bom desempenho em natação e corrida. Segundo ele, o interesse dos militares é uma saída para o pentatlo moderno -"Teremos apoio e atletas"-, em seu caminho para deixar a "lanterna" dos esportes olímpicos no Brasil.
(MT)

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