São Paulo, sexta-feira, 29 de novembro de 1996
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"Angel Baby" não supera a psicose

MURILO GABRIELLI
ESPECIAL PARA A FOLHA

Aparentemente, "Angel Baby" fala de transcendência, da possibilidade de o amor ajudar um casal de psicóticos a superar seus problemas e levar vida normal.
Aparentemente, também, o filme australiano não cai em armadilha fácil de propostas congêneres: ele tenta problematizar, não se esquiva de mostrar obstáculos que se apresentam durante o processo de superação.
Harry (John Lynch, de "Em Nome do Pai") conhece Kate (Jacqueline McKenzie) em um grupo de terapia.
O gelo inicial é quebrado com uma conversa sobre corte de pulsos. Kate só se decide a aceitar a corte de Harry após a consulta a um oráculo muito particular: as mensagens que seu anjo da guarda lhe envia por meio de uma espécie de "Roletrando".
Contrariando o irmão de Harry, o casal decide morar junto. Contrariando conselhos médicos, decide levar adiante uma gravidez e, para não prejudicar o feto, parar de se medicar.
Durante a gestação, tanto pai como mãe sofrerão recaídas. Não reside, porém, em um anunciado fim trágico a reversão da expectativa inicial da película.
O retrocesso vem junto a uma perene sensação de incômodo que a psicose desperta no público durante a projeção.
O espectador é conduzido a se identificar com o personagem de Lynch, que, na maior parte do tempo, tem reações racionais e maduras. Seu único momento de loucura é justificado pelos fatos.
Seu discurso indica que a superação da psicose depende de um ato de vontade seu, ou de boa vontade dos que o circundam.
Já de Kate e sua psicose, o espectador é apartado, ambos lhe parecem estrangeiros em demasia. E qualquer tentativa de empatia cai finalmente por terra, quando se mostra a incapacidade para a cura como resultado de uma irritante fraqueza da personagem.

Filme: Angel Baby
Produção: Austrália, 1996
Direção: Michael Rymer
Com: John Lynch, Jacqueline McKenzie
Cinemas: Belas Artes - sala Villa-Lobos

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