São Paulo, sexta-feira, 29 de novembro de 1996 |
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Encanto de 'Duas Amigas' vem do feminino
INÁCIO ARAUJO
Ou, em todo caso, é bem mais preciso do que o título original deste filme francês: "Mina Tannenbaum". A julgar pelo filme, Mina Tannenbaum (Romane Bohringer) é uma artista plástica morta prematuramente, tal como o norte-americano Basquiat, retratado no filme de Julian Schnabel. A diferença é que ela teria se matado. Mas "Basquiat" é antes de tudo filme de um artista plástico sobre outro. Está dentro da pintura como peixe na água. "Duas Amigas", ao contrário, busca seu interesse ao narrar a amizade entre duas mulheres e encontra-o no fato de observá-las quase exclusivamente por sua condição feminina. A rigor, Mina poderia ter qualquer outra atividade que não a pintura. Poderia ser, como Ethel (Elsa Zylberstein), jornalista. O essencial, no caso, são os sentimentos femininos, uma maneira de estar no mundo, de sentir insegurança, angústia, alegria ou solidão. O filme chega ao Brasil com um prêmio de roteiro ganho em Cannes. Mas nem todas as suas virtudes vêm do texto. Primeiro, existem duas belas atrizes (sobretudo Romane Bohringer), ajudando a compor as personagens. Depois, a diretora controla habilmente a narrativa, alternando momentos fortes e fracos, humor e tragédia, levando seu espectador suavemente até o ponto crucial do filme (a solidão feminina e a solidão em geral). Por fim, o achado central de "Duas Amigas" -o fato de as duas serem garotas razoavelmente feias, desprezadas, problemáticas, e a maneira como fazem face aos desafios que tudo isso representa- é desenvolvido a partir de um bom postulado: o de que não existe mulher feia; cabe a cada uma encontrar a sua, mas a beleza está lá. Ao contrário de Schnabel, o filme de Martine Dugowson é exterior à pintura. É menos tateante, cinematograficamente, mas não tem a inventividade de "Basquiat". Sua exatidão, no entanto, faz dele um espetáculo acima da média. Filme: Duas Amigas Produção: França, 1994 Direção: Martine Dugowson Com: Romane Bohringer, Elsa Zylberstein Cinema: Cinesesc Texto Anterior: "Angel Baby" não supera a psicose Índice |
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