São Paulo, sexta-feira, 29 de novembro de 1996
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É CEDO PARA OS FOGOS

O elevado ritmo de crescimento registrado no terceiro trimestre deste ano, de 2,7% em relação ao trimestre anterior e de vistosos 6,5% na comparação com o mesmo período de 95, não significa que 97 será marcado por uma retomada expressiva da atividade econômica. A questão está em alcançar um crescimento sustentável -e esse não está à vista.
Individualmente, o desempenho do trimestre é muito positivo e, em certo sentido, marca o final da freada que se iniciou no segundo trimestre de 95. Mas por enquanto esse resultado apenas corrobora as previsões de que o Produto Interno Bruto do Brasil crescerá cerca de 3% em todo o ano de 96 (já que no primeiro semestre a taxa esteve próxima de zero).
O crescimento de 6,5% em relação ao terceiro trimestre de 95 deve-se em grande medida ao fato de que o final do ano passado foi marcado por um baixo ritmo de atividade.
O início de 97 pode ainda registrar taxas elevadas de crescimento, mas parece ilusório supor que se desenha um cenário no qual o país poderia manter taxas superiores a 5% ao longo de todo o próximo ano. Seja como resultado espontâneo da inadimplência ou como fruto de algum tipo de contenção de crédito por parte do governo, parece hoje mais provável que essa taxa de crescimento caia durante o próximo ano. Afinal, além da delicada situação do crédito, o país enfrenta as restrições colocadas pelo déficit externo.
Caderno sobre o consumo das classes D e E publicado por esta Folha mostrou como a parcela mais pobre da população pôde adquirir maior quantidade de bens duráveis em 96. Mas confirmou também que a compra a crédito está na base desse novo consumo, o que sugere cautela antes de projetar uma tendência para o futuro. O ritmo das compras de eletrodomésticos pode arrefecer à medida que se esgote a capacidade de endividamento dessas famílias.
A retomada dos últimos três meses só pode ser bem-vinda. Mas ela pouco diz sobre o futuro. Os fogos com que se augura um próspero ano novo podem dar chabu.

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