São Paulo, sábado, 30 de novembro de 1996
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Homicida antiaborto é achado morto em prisão americana

CARLOS EDUARDO LINS DA SILVA
DE WASHINGTON

John Salvi Terceiro, 24, que cumpria pena de prisão perpétua sem direito a liberdade condicional pelo homicídio de duas funcionárias de clínicas de aborto, apareceu morto em sua cela, na prisão de Cedar Junction, Massachusetts (Costa Leste dos EUA).
A polícia disse que ele cometeu suicídio. Sua mãe, Ann Marie, disse ter alertado as autoridades sobre a possibilidade de o filho tentar se matar. Ela diz que Salvi deveria ter sido colocado em uma prisão-hospício, não em uma cadeia comum.
Os advogados que o defenderam argumentavam que Salvi sofria de paranóia esquizofrênica e não poderia ser responsabilizado pelos seus atos. Mas o júri que o julgou aceitou a tese da promotoria, para quem Salvi era dono de seus sentidos e planejara os crimes com meses de antecedência.
Durante seu julgamento, Salvi interrompeu diversas vezes os trabalhos, aos gritos, denunciando uma conspiração mundial contra a Igreja Católica, da qual era fiel.
Salvi, aluno de uma escola de cabelereiros e estecistas, abriu fogo contra duas clínicas de aborto na região de Boston, Massachusetts, em 30 de dezembro de 1994. No dia seguinte, foi preso após ter feito 23 disparos contra outra clínica de abortos, em Norfolk, Virgínia, cerca de 700 km ao sul de Boston.
Colegas e vizinhos dele em Hampton Beach, New Hampshire (Costa Leste dos EUA), descreviam Salvi como uma pessoa solitária e muito religiosa.
Quando foi preso, dirigia uma perua decorada com pôsteres de fetos abortados. Ao atirar contra uma de suas vítimas, ele gritava: "Isso é o que vocês merecem; o que vocês deveriam é estar rezando o santo rosário".
O episódio de Salvi foi o pior de uma série de atentados violentos contra clínicas de aborto nos EUA. Antes, dois médicos haviam sido mortos a tiros em Pensacola, Flórida, por militantes antiaborto.
Salvi não pertencia a nenhuma organização e seus crimes foram condenados pela maioria das entidades que combatem o aborto. Depois dos assassinatos cometidos por Salvi, diminuiu muito o número de atos de violência contra clínicas de aborto nos EUA.
Também após os crimes de Salvi, a Suprema Corte decidiu que é ilegal bloquear o acesso de pessoas a clínicas de aborto, como várias entidades vinham fazendo desde meados da década de 80 em inúmeras cidades do país.

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