São Paulo, sábado, 30 de novembro de 1996
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Vaivém dos trouxas

ELEONORA DE LUCENA

São Paulo - Mudou o discurso econômico do governo nesta semana. Agora, a nova idéia é reviver o slogan criado nos anos 70 pelo então czar Delfim Netto: "Exportar é o que importa".
O próprio presidente Fernando Henrique Cardoso anunciou a novidade durante sua visita à África do Sul. Rapidamente, o ministro Antonio Kandir alardeou um novo pacote para incentivar as exportações. Ontem saíram as medidas.
Gustavo Franco, diretor da área externa do Banco Central e ideólogo da política econômica de FHC, sacramentou: "Se eu tivesse que definir uma prioridade para o ano que vem, seriam as exportações".
Em janeiro deste ano, Franco tinha outras prioridades. Chamava os que previam déficit comerciais de "engraçadinhos" -e os que acreditavam nessas previsões de "trouxas". "Não se deve esperar mais um pulo das importações", pontificava.
Os meses foram passando, e os déficits se acumulando. No meio do ano, o ministro Pedro Malan dizia que a situação seria revertida no segundo semestre. Semanas atrás, Franco preparava uma saída: "Viver com déficits comerciais não é uma situação necessariamente problemática".
Em outubro, o Brasil teve o maior déficit comercial de sua história: US$ 1,3 bilhão. As importações foram recorde: US$ 5,5 bilhões. O setor exportador caiu de 9,6% do PIB, em 92, para 6,5% do PIB, em 95.
O tamanho do rombo deve ter assustado e deve explicar a mudança no discurso oficial. Ao mesmo tempo, o megadéficit serviu para aumentar a pressão por mudanças na política cambial. Tanto que forçou FHC a negar, formalmente, qualquer alteração.
Assim é o vaivém das previsões e discursos oficiais. A abertura desvairada pode estar cedendo um pouquinho de espaço para o lema de Delfim nos 70.
Resta saber se nessa onda retrô não acabará reaparecendo a outra pérola da época: "É preciso fazer o bolo crescer para depois dividi-lo". Ainda não chegamos a esse ponto. Pelo menos no discurso.

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