São Paulo, domingo, 1 de dezembro de 1996
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Atletas do Mirassol estão há três meses sem receber salário

FÁBIO VICTOR
DA REPORTAGEM LOCAL

Para os jogadores do Mirassol, último colocado do Paulista, com 3 vitórias em 18 jogos, o que não faltam são motivos para justificar o fraco desempenho.
Desclassificados, não receberam ainda todo o salário referente a agosto e nem o dos três meses seguintes. Contrataram um advogado e movem uma ação trabalhista contra o clube.
Campeão da Série A-2 em 1995, o time fez este ano a sua estréia na divisão de elite do Paulista. Única patrocinadora da equipe, a prefeitura da cidade alegou falta de recursos para manter os salários em dia.
O prefeito Fernando Vendramini (PSD) diz ter buscado patrocinadores antes de recorrer ao orçamento municipal e que a queda de arrecadação motivou os atrasos.
Para o ala Maurão, o caso do Mirassol é apenas um reflexo da situação estrutural do basquete brasileiro. "Só que aqui a mentalidade ainda é mais amadora que a média."
O armador Cacá pediu dinheiro emprestado por mais de dois meses. Até que, em outubro, cheio de dívidas e com a esposa grávida, resolveu vender seu Gol 93, por R$ 7,5 mil.
"A paz de não dever nada vale mais do que qualquer bem", justifica. Atleta de Cristo, Cacá diz não ter raiva dos diretores, mas cita a Bíblia (Jeremias, 17) para ilustrar seu conceito em relação aos dirigentes: "Maldito é o homem que confia no homem".
Despejo
Situação semelhante viveu o ala Fausto. Recém-casado, saiu da casa onde morava, advertido pela imobiliária de que seria despejado, caso continuasse a dever o aluguel.
"Fiquei sujo na imobiliária até ter dinheiro para saldar a dívida." A esposa deixou Mirassol, e Fausto foi morar numa república com outros jogadores.
Ainda hoje pede dinheiro emprestado e procura emprego, "em qualquer área", para pagar o que continua devendo. "O que aparecer eu pego", diz.
Fausto defende a profissionalização do basquete no país, o que, segundo ele, "dificultaria situações como essa".
Descontente com os atrasos, o técnico Émerson Tadiello abandonou a equipe durante o torneio. "Quando o Mirassol me procurou, elaboramos um projeto para ficar pelo menos entre os oito melhores."
Após dois meses sem receber, desistiu. "Estava tirando dinheiro do meu bolso para trabalhar. Todo mundo tem seu limite, e o meu tinha chegado."
Assumiu o diretor Luis Fernando Antunes, sem experiência alguma como treinador. "Ao invés de ele treinar a gente, nós é que lhe ensinávamos basquete", conta o pivô Macetão.
Se não poupa críticas aos empresários locais, por não investirem na equipe, Antunes faz questão de elogiar os jogadores: "Eles foram muito valentes, representando a cidade, apesar de tudo".
(FV)

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