São Paulo, domingo, 1 de dezembro de 1996
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'Palavra' manda em acordos com clubes

Quase metade dos atletas depende de 'confiança'

FÁBIO VICTOR
DA REPORTAGEM LOCAL

Na maior parte dos acordos firmados entre jogadores e clubes no Campeonato Paulista de Basquete o que vale é a "palavra".
Quase o mesmo número, 47,7%, disseram ter contratos de prestação de serviço, ajuda de custo, cessão de imagem ou incentivo ao esporte, a maioria sem valor jurídico. Apenas 3,6%, todos juvenis, não têm nenhum tipo de acerto.
A única formalidade capaz de manter os jogadores numa mesma equipe por um período definido é a ficha de inscrição no campeonato, enviada pelos clubes à federação e que impede a transferência de atletas ao longo da competição.
"No basquete o que vale é o respeito humano, o que prevalece é a confiança", diz o técnico Marcel de Souza, jogador por 25 anos.
Essa realidade abre precedentes para que, mesmo com "contratos", atletas abandonem as equipes durante as competições ou, ao contrário, os clubes dispensem jogadores durante uma temporada.
É o caso do Dharma-Yara, semifinalista do Paulista. Contratados verbalmente para jogar até o final da Liga Nacional, em abril, os atletas foram comunicados pelo patrocinador de que o acordo se encerraria no próximo dia 31.
Caso não tivessem conseguido imediatamente um novo patrocinador (Polti-Vaporetto/Curso COC), os jogadores estariam desempregados tão logo terminasse o Estadual.
Meias-verdades
"No basquete brasileiro, se rescinde um contrato como quem rasga um papel qualquer", reclama o pivô Marco, do Pinheiros.
O próprio presidente da Confederação Brasileira de Basquete, Renato Brito Cunha, afirma que não conhece a natureza dos contratos feitos no país e se queixa da falta de transparência dos clubes.
Brito se refere a situações nas quais atletas ganham altos salários como se estivessem recebendo apenas uma "ajuda de custo" para alimentação, moradia etc.
No Pinheiros-Asia Motors e Guaru, por exemplo, onde a média salarial é de R$ 3,5 mil por mês, os contratos são verbais e os atletas recebem como "ajuda de custo".
"Vivemos uma meia-verdade. E uma meia-verdade é uma meia-mentira", diz Cunha.
Pela Lei Zico, que regulamenta a prática esportiva no país, todos os contratos profissionais devem ser registrados na confederação.
Como nenhum clube mantém relações profissionais com seus atletas, a entidade não tem acesso aos termos das negociações.
Duração
Quanto à duração dos acordos, a pesquisa mostra que a maioria deles (51,4%) é feito para o período de um ano; 23,8% variam entre 6 e 11 meses, e 20% são de menos de seis meses. Apenas 4,7% afirmaram ter acertos com duração de mais de um ano.
Marcel acha que os contratos curtos são vantajosos para atletas e clubes. "Os jogadores podem analisar melhor as ofertas após a temporada, e os clubes, por falta de recursos, normalmente se programam para períodos curtos."
O ala Maurão, que jogou o Paulista pelo Mirassol, diz que a curta duração dos acordos só prejudica os atletas. "Vamos treinar visando o quê, se não temos garantias de um trabalho duradouro?", questiona.

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