São Paulo, segunda-feira, 2 de dezembro de 1996
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Depoimento 2

"Até os 13 anos de idade, posso dizer que minha vida foi uma catástrofe. Eu não conseguia me achar em nenhum lugar.
Nem com 40 anos indo ao psicólogo conseguiria resposta as minhas inquietações.
Reunindo-me com outros filhos de desaparecidos acabei achando a resposta.
Meus pais foram capturados no dia 5 de abril de 1977. Nessa época, eu tinha um ano de idade. Minha mãe foi solta alguns dias depois, mas meu pai nunca mais reapareceu, vivo ou morto.
Eu sabia que ele tinha sido assassinado, mas pessoas se aproximavam para caçoar, dizendo que ele foi visto passeando na Colômbia.
Isso me incomodava muito, como se ele pudesse entrar pelo portão de casa a qualquer momento.
Quando eu tinha 15 anos, enfiei na cabeça que queria ser advogada, só para poder colocar na cadeia aqueles que mataram meu pai.
No ano passado, entrei para o H.I.J.O.S.. Fiquei tão envolvida com os outros filhos de desaparecidos, que larguei o namorado, a faculdade de direito.
Depois de um ano no movimento, consegui começar a me recuperar e me integrar melhor à sociedade. Agora, eu estou estudando sociologia para poder achar uma lógica na história da Argentina."

Paula Maroni, 20 anos

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