São Paulo, segunda-feira, 2 de dezembro de 1996
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DESENCONTRO DE CINGAPURA

Desde os anos 80 praticam-se em boa parte das chamadas economias em desenvolvimento políticas de abertura comercial que foram até codificadas numa súmula, celebrizada como Consenso de Washington.
O ambiente mudou. Se as principais teses do consenso anterior continuam válidas, inexiste acordo sobre a intensidade e o cronograma das políticas comerciais adequadas aos países em desenvolvimento.
Um exemplo foi a reunião do Fórum de Cooperação Econômica da Ásia e Pacífico, ocorrida na semana passada nas Filipinas.
Esse fórum favorece a adesão voluntária dos membros, e o cronograma é dilatado, fixando o ano de 2020 como a referência para uma liberalização maior entre os países em desenvolvimento. Para os países desenvolvidos, o cronograma é mais restrito, mas não pode ser considerado apressado: a data de referência fixada é o ano de 2010.
Mas o principal evento em que essa falta de consenso ficará explícita é a primeira cúpula ministerial da OMC (Organização Mundial do Comércio), que ocorrerá em Cingapura dentro de uma semana. As reuniões preparatórias do encontro terminaram na última sexta-feira sem que se chegasse a um consenso quanto ao conteúdo do documento final.
A OMC é integrada por 125 países, ricos e pobres, entre os quais há divergências em temas como direitos trabalhistas, regras para têxteis, agricultura e investimento.
Os países desenvolvidos criticam o "dumping social", que vai do trabalho infantil à repressão a sindicatos. Os asiáticos resistem. Outros temas são polêmicos. O Brasil estabeleceu a proteção aos brinquedos, e o regime automotivo é alvo de denúncia na própria OMC. Os EUA, defensores de uma liberalização maior do comércio, estão sob ataque por adotar medidas unilaterais.
Mas a falta de consenso não deve ser tomada como algo ruim em si ou como sinal de retrocesso. Na prática, as instituições geralmente consagram novos princípios apenas depois que eles já se tornaram realidade nos mercados, raramente se antecipando ou impondo novas regras.

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