São Paulo, terça-feira, 3 de dezembro de 1996
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Presos destroem celas de delegacia em SP

MARCELO OLIVEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL

Os 108 presos da cadeia do 9º DP, no Carandiru, zona norte de São Paulo, se rebelaram às 8h de ontem. Todas as celas -cinco- foram destruídas e 68 deles, que não foram transferidos por falta de vagas, deveriam dormir no pátio, na noite de ontem, enquanto esperavam por remoção.
A cadeia estava com superlotação desde o dia 16, quando os ocupantes das celas 4 e 5 tentaram fugir por um túnel, que acabou inundado por esgoto.
As duas celas foram fechadas e os presos distribuídos nas restantes.
A tensão aumentou na sexta-feira, com o anúncio de que 40 presos seriam transferidos.
A notícia foi seguida de uma nova tentativa de fuga, frustrada anteontem.
Ontem de manhã, os presos quebraram as grades das celas e atearam fogo em colchões e roupas. Depois tentaram derrubar as paredes com as grades arrancadas.
PMs da 1ª Companhia do 5º Batalhão, vizinha do DP, comandados pelo capitão Samuel Pizarro de Oliveira, cercaram o prédio e efetuaram disparos para o alto.
Os presos encerraram a rebelião e pediram para negociar mais transferências.
Fezes
Os presos exibiram pratos cheios de fezes, afirmando que estavam utilizando-os como sanitários por causa da superlotação.
Os amotinados pediram a presença de um representante dos parentes e de câmaras de TV, pois temiam sofrer agressões no caminho entre o pátio da cadeia e a sala onde ocorreria a negociação.
Porém o juiz corregedor interino, Nelson Biasi Jr., que conversou com comissão de cinco detentos, não anunciou novas vagas.
Os 68 que não conseguiram transferência ficariam no pátio, vigiados por policiais civis e PMs, já que as celas foram inutilizadas.
Apenas a transferência dos 40 foi mantida. Ainda ontem, 25 presos seriam distribuídos em cadeias do interior do Estado (Sorocaba, São Vicente e Itapetininga). Os demais iriam para a Casa de Detenção.
O delegado titular do 9º DP, Sérgio José da Silva, que participou da negociação, afirmou que a situação ficaria assim até conseguirem vagas no sistema prisional.
Sistema lotado
Segundo Roberto Pacheco de Toledo, coordenador do GOE (Grupo de Operações Especiais), da Polícia Civil, 6.900 presos -50% já condenados- ocupam as celas dos 93 DPs da cidade.
Os DPs deveriam abrigar somente presos não-julgados.
Com a chegada do Natal e Ano Novo, o delegado teme que a tensão nas cadeias aumente. "Hoje, as fugas são a nossa grande preocupação", afirmou.

Texto Anterior: Presidente da Câmara já tem três candidatos
Próximo Texto: Estado e ONU fazem convênio para combater a criminalidade
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.