São Paulo, terça-feira, 3 de dezembro de 1996
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Havana exibe banquete latino-americano

AMIR LABAKI
ENVIADO ESPECIAL A AMSTERDÃ

O Festival do Novo Cinema Latino-Americano de Havana abre hoje mais uma janela de dez dias na crise cubana.
As dificuldades do "período especial", como foi batizada a era de escassez pós-derrocada do bloco soviético, foram novamente dribladas, e Havana ainda sedia o principal encontro da produção abaixo do Rio Grande.
O extensíssimo programa é um autêntico banquete audiovisual que será servido em nada menos que 22 salas de cinema e de vídeo.
Contam-se dez mostras competitivas, além da disputa de roteiros inéditos e de cartazes de cinema. As retrospectivas, homenagens e ciclos especiais alcançam a marca de 20 programas.
A representação brasileira é a mais expressiva da década. São dez dos 48 concorrentes ao prêmio de melhor longa-metragem, marca apenas superada pelos 14 títulos argentinos.
Nos curtas de ficção, a supremacia é absoluta, com 25 dos 62 selecionados (o México vem a seguir, com 15 curtas). Nos curtas de animação, Brasil e Cuba lideram, com três filmes cada. Em apenas duas categorias (longas de animação e vídeos de ficção de longa-metragem) não há brasileiros.
Tudo somado, a produção audiovisual do Brasil tem a presença mais marcante do festival, seguida pela da Argentina e da Venezuela. O México, uma das mais tradicionais forças da região, surpreende negativamente e ocupa uma tímida quarta posição.
A produção cubana recuperou-se um pouco, mas ainda enfrenta a pior crise desde o triunfo revolucionário, em 1959. Nenhum longa concorre ao prêmio principal. Há apenas um curta e dois médias de ficção, três curtas e um média documental, um longa e dois curtas de animação. A mais expressiva presença se dá na disputa de documentários em vídeo, com um total de 28 obras.
A saudável renovação geracional do cinema latino-americano é espelhada pela disputa de quase 50 longas de ficção. Não enchem duas mãos os filmes assinados por cineastas de maior renome.
"Buenos Aires Vice Versa", do argentino Alejandro Agresti, também parte bem posicionado.
Prêmios à parte, a teoria do autor deve despertar atenção aos novos filmes do argentino Eliseo Subiela ("Despabílate Amor"), do brasileiro Carlos Diegues ("Tieta do Agreste"), do colombiano Sergio Cabrera ("Ilona Llega con la Lluvia") e do peruano Francisco Lombardi ("Bajo La Piel").
Os ciclos especiais garantem a atualização ao carente e efusivo público cubano. "Basquiat" é o mais quente dos 12 títulos do panorama internacional. "Crash" (Batida), de David Cronenberg, será o "cult" da mostra canadense. O ciclo espanhol tem "Taxi", de Carlos Saura, como destaque.
Os cineastas Tomas Gutiérrez Alea, Werner Herzog, Joris Ivens e Ken Loach, o fotógrafo Gabriel Figueroa e o curador brasileiro Cosme Alves Neto (morto no início do ano) são os homenageados.

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