São Paulo, quarta-feira, 4 de dezembro de 1996 |
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Governador anuncia rompimento com PT CLÓVIS ROSSI CLÓVIS ROSSI; FÁBIO SANCHEZ
FÁBIO SANCHEZ O governador do Espírito Santo, Vitor Buaiz, anunciou ontem o que ele próprio chama de "uma forma de rompimento" com o PT, seu partido. O rompimento se traduz na prática pela recusa do governador de participar de novas reuniões com a comissão criada pela direção nacional do PT para negociar a convivência entre Buaiz e as alas do PT capixaba que a ele se opõem. Foi exatamente a primeira dessas reuniões, na semana passada, que causou o rompimento. Estavam presentes apenas lideranças do partido, nacionais e locais, mas, assim mesmo, vazaram para o principal jornal de Vitória ("A Gazeta") anotações quase completas de tudo o que foi tratado internamente. É verdade que Buaiz e seu secretário da Fazenda, Rogério Medeiros, alegam que a transcrição é, em alguns pontos, incorreta. Também o chefe do Gabinete Civil, Robson Neves, diz que a transcrição das conversas é parcial. Mas parece claro que, no essencial, o relato transmitido ao jornal corresponde de fato aos temas discutidos pelos petistas, com uma ou outra citação fora de contexto. Confiança quebrada Como só estavam presentes dirigentes partidários, o governador diz que se rompeu inteiramente a confiança entre ele e os grupos petistas que lhe fazem oposição. É claro que Buaiz culpa tais grupos pelo vazamento. Reforça o chefe do Gabinete Civil: "Acabou a relação de confiança que se tinha". As correntes colocadas sob suspeição são três: Democracia Socialista e Força Socialista, ambos de tendência trotskista, e Articulação de Esquerda, uma cisão da Articulação, corrente principal do partido, no plano nacional, da qual fazem parte Luiz Inácio Lula da Silva e José Dirceu, presidente de honra e presidente nacional do PT. Buaiz faz questão, no entanto, de inocentar Ruy Falcão, o principal líder nacional da Articulação de Esquerda. Mas Robson Neves critica veladamente a direção nacional porque acha que a reunião ocorreu quando "não estava preparado o clima de fraternidade". Rompimento O chefe do Gabinete Civil acha que a cúpula nacional do partido foi atingida pelo episódio e "ficou descredenciada para buscar qualquer entendimento". Na prática, Buaiz está sendo até tímido ao dizer que a decisão de não voltar a se reunir com os grupos petistas é apenas "uma forma de rompimento". O governador dispara frases irritadas que indicam um rompimento de fato, como, por exemplo: "Não estou disposto a ficar refém do partido". O secretário da Fazenda, Rogério Medeiros, um dos fundadores do PT capixaba, junto com o atual governador, já pediu desfiliação, igualmente acusando as correntes internas de faltar com a ética. Buarque Buaiz foi um dos dois únicos governadores eleitos pelo PT em 1994, ao lado de Cristovam Buarque, de Brasília. Ontem, os dois conversaram pelo telefone. Buarque queixou-se quase tanto quanto Buaiz do comportamento do partido. "Não há governo que aguente", resume Buaiz. Em nota oficial, o governador capixaba demonstra sua intenção de se afastar do partido, ou de pelo menos evitar que sua gestão fique marcada pelo racha partidário. Ele diz que não vai "permitir que a crise interna do PT continue interferindo na governabilidade do Estado". O objetivo de Buaiz é mostrar preocupação com questões administrativas, como seus projetos que tramitam na Assembléia Legislativa. Texto Anterior: Encontro discute ouvidoria pública Próximo Texto: "Vou lá resolver a parada" Índice |
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