São Paulo, quarta-feira, 4 de dezembro de 1996
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Marinheiros abandonados exigem salário

ESTANISLAU MARIA
DA AGÊNCIA FOLHA, EM BELÉM

Os 17 tripulantes romenos que moram no navio Brittany 1, abandonado em Belém (PA) há seis meses pelo israelense Joshua Waldnorn, disseram ontem à Agência Folha que só voltam para casa depois de receberem seus salários.
Segundo os marinheiros, eles têm a receber de Joshua Waldhorn pelo menos US$ 142 mil de salários atrasados.
O israelense Waldhorn é dono da Clark Navegation, com sede na Libéria (oeste da África). Sua empresa contratou a agenciadora israelense Olivine LTD Ship Management, que por sua vez contratou a agência Marítima Fullman, com sede em Bilbao, na Espanha.
A Fullman contratou a Agemar, na Romênia, que então contratou os marinheiros. Os salários variam de US$ 760 para os marinheiros até US$ 3.600 para o comandante.
"Depois de seis meses, não podemos voltar com as mãos abanando", disse o engenheiro de máquinas Sorin Cobzaru, 31, que fala um pouco de português.
Ontem, o clima entre os tripulantes era de tranquilidade, depois de receberem água e alimentos doados por escolas e companhias de navegação de Belém.
Nos últimos dias, sem dinheiro, água e comida, eles chegaram a ameaçar o suicídio coletivo.
Os 17 romenos só receberam o primeiro salário -adiantado em maio. Desde junho, não recebem dinheiro, mantimentos ou qualquer informação do israelense ou das agências envolvidas.
Sem condições de navegar, o Brittany 1 está ancorado a 6 km do porto de Belém, na baía de Guajará, formada pelo rio Guamá. Não há perigo de colisões com grandes embarcações. "Mas barcos menores podem bater", disse o chefe de tripulação, Dumbrave Yoan, 49.
A maioria dos romenos está há dois meses sem contato com a família. Eles não vão a Belém porque acabou o dinheiro para pagar o aluguel do barco que os levava.
"O equipamento de comunicação funciona, mas não temos energia", disse o oficial de radiocomunicação, Liviu Dragulski, 25.
Só um gerador de pequena potência está ligado para acender duas lâmpadas e acionar as três geladeiras que guardam os alimentos doados -frutas, legumes, ovos e um pouco de carne.
A comida e a água são racionadas e o cardápio de ontem era sopa de legumes. A água doada só é usada para beber e preparar a comida. As roupas são lavadas na chuva. Banho só com água do rio, que, segundo os romenos, vem provocando alergias em todo o grupo. Os marinheiros pediram assistência à Embaixada da Romênia, que se prontificou a levá-los de volta ao país natal. Eles não aceitam -querem o confisco e o leilão do navio, para retirar do montante seus salários atrasados.

Texto Anterior: Pesqueiro captura tubarão no Guarujá
Próximo Texto: Romeno sofre segundo calote
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.