São Paulo, quarta-feira, 4 de dezembro de 1996
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'Pianistas tocam mais hoje', diz Nelson Freire

JOÃO BATISTA NATALI
DA REPORTAGEM LOCAL

Nelson Freire, 52, é hoje certamente o pianista brasileiro com maior projeção no exterior. Mora em Paris, faz em média 50 concertos por ano na Europa e se apresenta neste domingo, em São Paulo, no Teatro Municipal.
O concerto, o primeiro da série "Fim de Ano", terá a Orquestra Sinfônica Municipal, sob a regência de Luiz Fernando Malheiro. Os ingressos custam de R$ 2 a R$ 8.
Freire será o solista do "Concerto para Piano e Orquestra", em lá menor, op. 54, de Robert Schumann (1810-1856).
Eis os principais trechos da entrevista do pianista à Folha:
*
Folha - Quando o sr. tocará no Brasil com a pianista argentina Martha Argerich? Pelo segundo ano, o projeto naufragou.
Nelson Freire - É uma boa pergunta. O compromisso ficou suspenso. Ela estava estressada. A Martha é difícil de viajar. Ela tem um problema com a América do Sul e as Américas em geral... Ela se distanciou um pouco das raízes.
Folha - O sr. tem algum problema com as Américas e com o Brasil?
Freire - Nenhum. Eu mantenho minha residência aqui. Minhas raízes também estão aqui.
Folha - O jovem pianista está recebendo hoje, no Brasil, uma formação melhor ou pior que aquela que lhe foi dada nos anos 50?
Freire - Uma coisa não mudou: a meta é sempre ir para fora. As oportunidades aqui dentro, para um jovem artista, a meu ver caíram um pouco.
Folha - Os concursos têm revelado instrumentistas de extrema qualidade musical. Foi o caso, ainda há dias, em São Paulo, do concurso Promom/Cultura FM.
Freire - São Paulo é sempre um outro mundo. Acontecem muito mais coisas do que no resto do Brasil. O piano continua sendo praticado por muita gente. É uma tradição nacional.
Essa tradição poderia ser maior se houvesse mais divulgação, um contato mais intensivo da música com a juventude.
Folha - Isso poderia ocorrer por meio da ajuda do Estado ou de mecanismos alternativos, dentro do próprio mercado?
Freire - É a mídia, mesmo, que poderia dar mais oportunidade para se ouvir mais música.
Folha - Na Europa, o seu público está envelhecendo ou está mantendo a mesma idade?
Freire - Ele mantém a idade.
Folha - E aqui no Brasil?
Freire - De três para quatro anos para cá, acredito que esteja havendo um rejuvenescimento.
Folha - Em espetáculos com preços mais acessíveis, o público mais jovem não seria mais numeroso?
Freire - Isso é importante. Nos concertos que eu e Martha (Argerich) faríamos (no Brasil), exigimos que um deles fosse por preço muito acessível.
Pensamos mais em quem gostaria de ouvir nossa música e não em pessoas que só ouviram falar, mas têm dinheiro para comprar um ingresso bastante caro.
Folha - Há um novo "bicho" na fauna musical brasileira: o tecladista. A existência dele ajuda a fazer com que o piano se popularize, ou prejudica essa popularização?
Freire - Não há nada a ver uma coisa com a outra. São músicas diferentes. Um nem ajuda e nem atrapalha o outro.
Folha - Um bom piano Steinway custa hoje US$ 60 mil, mas um teclado eletrônico custa US$ 250. Os jovens podem praticar, então, de uma maneira mais barata...
Freire - Para estudar, claro que isso pode resolver. Eu tenho amigos que possuem teclados, para não incomodar os vizinhos.
Folha - Há pressão para "pavarottizar" os pianistas, transformando-os em estrelas do showbiz?
Freire - Talvez essa pressão exista. Hoje, um pianista toca muito mais do que tocaria há 40 anos. Mas há também muita resistência a isso. O Maurizio Pollini não faz mais que 30 concertos por ano. Eu não faço mais que 50.

Concerto: Nelson Freire (piano) e Orquestra Sinfônica Municipal, dir. Luiz Fernando Malheiro
Onde: Teatro Municipal de São Paulo (pça. Ramos de Azevedo, s/nº, tel. 222-8698)
Quando: domingo, dia 8, às 20h30
Ingressos: de R$ 2 a R$ 8

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