São Paulo, quarta-feira, 4 de dezembro de 1996
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Velhas palavras

CARLOS HEITOR CONY

Rio de Janeiro - A modernidade dos tempos apregoada pelos arautos do governo, e da mídia a ele anexada, teve apenas o trabalho de adaptar a semântica aos novos tempos. Já lembrei aqui a história do filho do Jacó, que não estava dando, mas tomando. Vejo agora que a mesma anedota pode ser aplicada ao neoliberalismo de FHC.
Semana passada, o cientista político norte-americano James Pettras, professor da Universidade Estatal de Nova York e membro do Tribunal Russell, autor de duas dezenas de livros sobre movimentos políticos na Europa e na América, declarou enfaticamente que "FHC é o executivo do investidor estrangeiro". (Tirei a citação da própria Folha, edição de anteontem).
Bem, dirão os puxa-sacos sabidos e consabidos: "E o que isso tem de mal? É ótimo que o presidente seja responsável pelos investimentos que estão sendo feitos no Brasil". Seis anos atrás, o próprio FHC classificava essa função como a de "testa-de-ferro do imperialismo".
Mas a semântica atua novamente. Mês passado, no Chile, Alain Touraine, que dizem ser amigo de FHC desde criancinha, declarou também enfaticamente que "globalização é aquilo que, no passado, chamávamos de imperialismo".
Unindo-se as duas pontas, a acusação de James Pettras e a constatação de Alain Touraine, resgatamos o vocabulário dos dinossauros que ainda não se deram conta de que o Muro de Berlim caiu.
Aparentemente, tanto o imperialismo como seus agentes infiltrados nas economias nacionais saíram de moda. Mas nem assim deixaram de existir: com outros nomes, mas com a mesma sintaxe.
O fato de a União Soviética ter implodido, por ter exercido outro tipo de imperialismo e ter tido, a seu modo, os mesmos agentes, não significa que o atrito entre capital-trabalho tenha acabado. Tomando (ou dando), capital e trabalho continuam escrevendo a história que ainda não acabou.

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