São Paulo, quinta-feira, 5 de dezembro de 1996
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SP tem 282 mil alunos em área crítica

FERNANDO ROSSETTI
DA REPORTAGEM LOCAL

O Estado de São Paulo tem hoje pelo menos 282 mil estudantes em regiões onde a demanda é considerada "crítica", mostra o plano de obras da Secretaria da Educação.
A enorme maioria desses alunos (247 mil) está na região metropolitana de São Paulo -principalmente na periferia da capital e nos municípios da Grande São Paulo.
Esses dados podem ser calculados a partir do número de salas de aula em construção nessas regiões. Uma sala de aula atende 40 alunos. Como essas salas funcionam em três períodos (manhã, tarde e noite), abrigam num dia 120 alunos.
Ao todo, o Estado prevê a construção de 2.358 salas nessas áreas ditas críticas -1.400 delas estão "em fase de conclusão", segundo nota oficial divulgada ontem.
Nessa nota, a Secretaria da Educação do governo Mário Covas minimiza o problema da demanda de vagas: "Os três primeiros dias do período de matrículas na rede estadual foram tranquilos na esmagadora maioria das 5.100 escolas de 1ª a 4ª séries."
O governo diz ainda que isso se deve à construção de "mais de mil novas salas nas regiões onde sempre houve grande demanda".
Contêineres
As 150 salas emergenciais, ou contêineres, que poderão ser usados no início da aula para abrigar alunos em regiões críticas, seriam uma das "providências necessárias para que todas as crianças sejam atendidas pelas escolas". Em 1993 foram 157 contêineres; em 95, 13; para 1997, serão 150.
Segundo o representante da Eurobras, Remy Picarelli Jr., que produz os contêineres-sala, os novos produtos seguem padrão internacional. "Não têm nada a ver com os comprados antes, que não eram feitos para abrigar alunos."
Três motivos principais explicam a precariedade do atendimento à demanda de vagas no ensino público paulista: a descontinuidade e desarticulação das políticas de construção, migrações populacionais imprevisíveis e a chamada "reorganização das escolas".
A cidade de São Paulo, por exemplo, conta com duas redes, a estadual e a municipal. A primeira atende 1 milhão de alunos de 1º grau, e a segunda, 500 mil.
Quando o PT deixou a administração da cidade, em 1992, fez projeções que indicavam a necessidade de 300 mil novas vagas de 1º grau na cidade. Desde então, o município abrigou 20 mil novos alunos nesse nível de ensino. O governo estadual, com suas mil novas salas, teria abrigado 120 mil.
Essa carência é agravada com as migrações -seja do Nordeste para São Paulo, seja de regiões mais centrais da cidade para a periferia da Grande São Paulo.
Cada nova favela, conjunto residencial ou prédio do Projeto Cingapura cria nova demanda por escolas -e, muitas vezes, ociosidade de vagas em outro local.
Reorganização
Além de tudo isso, o governo Covas, com sua "reorganização", diminuiu de 1.039 para 437 o número de escolas que atendiam em mais de três turnos diários.
Quer dizer, cerca de 2 milhões de alunos passaram a ficar cinco horas por dia na escola.
Com isso, houve uma melhoria do ensino estadual -na rede municipal, por exemplo, todos os 500 mil alunos ficam apenas quatro horas por dia na escola.
Mas essa "racionalização" da rede estadual -que envolveu o fechamento de 148 escolas-, agravou em certas regiões a falta de vagas ou a superlotação das classes.
E o pior está ainda por vir: com a gradativa melhoria do ensino, mais estudantes estão chegando ao 2º grau -que, atualmente, já tem que recorrer ao sorteio de vagas.

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