São Paulo, quinta-feira, 5 de dezembro de 1996
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O ocaso da Acesita

LUÍS NASSIF

A eleição do presidente da Usiminas, Rinaldo Campos Soares, como líder empresarial do ano da "Gazeta Mercantil" coincide com o ocaso de Wilson Brummer, presidente da Acesita -ambos, grandes técnicos de empresas públicas, com papel relevante na gestão de empresas privatizadas.
Brummer tinha sido presidente da Vale do Rio Doce. Foi indicado pelos fundos de pensão para assumir a presidência da Acesita, quando da privatização.
Há pouco menos de dois anos, Brummer foi o autor da mais ambiciosa tentativa de fusão já ocorrida no Brasil.
O plano obedecia a uma racionalidade cartesiana e a uma estratégia política autista.
A Acesita adquiriria o controle da Companhia Siderúrgica de Tubarão (CST), da Usiminas, da Cosipa e da Açominas. A Açominas perderia a operação de gusa, que era antieconômica, e seria suprida pela Usiminas. Tubarão mandaria placas para a Usiminas no lugar do gusa, e para a Cosipa, permitindo fechar sua parte poluída.
O conjunto resultaria em uma das maiores multinacionais mundiais do aço, com todos os produtos e 11 milhões de toneladas de produção racionalizada.
Só que, no meio de máquinas, havia gente, e a enorme dificuldade com que as empresas brasileiras administram seus interesses individuais.
Controle e gestão
Em uma economia de mercado madura, há separações nítidas entre controle acionário e gestão. Os executivos tocam a operação, e os acionistas administram participações acionárias.
No incipiente modelo de sociedade anônima brasileiro, essas diferenciações ainda não são muito nítidas.
O que levou ao fracasso do projeto foi justamente não ter sido coordenado por acionistas. Ao assumir a frente do processo, os executivos levaram em conta a preservação de seus espaços individuais -não a maximização dos resultados.
Brummer, como autor do plano, queria que a Acesita assumisse o controle do processo. Anunciou o plano sem consultar nenhuma das partes.
A Vale do Rio Doce entrou torpedeando, porque Brummer não pertencia ao time atual de diretores. Rinaldo, da Usiminas, tomou-se de ciúmes, foi ao Japão e convenceu seus sócios japoneses a colocarem dinheiro na operação, exercendo seu direito de preferência na CST.
Como ficaria isolada no mercado, a Companhia Siderúrgica Nacional montou forte lobby em Brasília, contra a operação.
Brummer ficou em dificuldades. Nas negociações, tinha direito de refutar a Cosipa, se não levasse a Usiminas, mas não tinha o direito de recuar em relação à CST.
A Vale, com raiva, exerceu direitos de preferência na CST, junto com japoneses da Kawasaki. Vale, Acesita e Kawasaki ficaram com 33% cada.
A Acesita ficou com obrigações pesadas, tendo se endividado para efetuar investimentos próprios, para adquirir os 33% da CST, além de ter entrado como acionista da Villares e da Sifco.
As ações caíram de R$ 7 para R$ 2 e não se recuperaram mais.
Lições
Um plano ultra-racional não prosperou por disputas entre executivos, que não levaram em conta os interesses dos acionistas -e do país.
Uma lição para os novos personagens da vida nacional -os investidores, fundos de investimento ou de pensão. Além do capital, não podem abrir mão da definição das estratégias societárias. Ainda mais em uma economia que viverá, nos próximos anos, rápidos processos de fusões e incorporações.

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