São Paulo, quinta-feira, 5 de dezembro de 1996
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Andrade faz retrato dos anos 30 (1)

CARLOS CORTEZ MINCHILLO
ESPECIAL PARA A FOLHA

Entre 1924 e 1942, Mário de Andrade escreveu e revisou as nove narrativas que compõem "Contos Novos". Esse período é revelador do cuidado artístico do autor, que determinou um projeto bem definido: retratar as instituições sociais do início do século 20, num Brasil em que a urbanização contrastava com hábitos ainda provincianos de uma sociedade repressora e reprimida.
É possível dividir os contos em dois grupos: aqueles narrados em primeira pessoa, cujas análises psicológicas têm um caráter autobiográfico, e os narrados em terceira pessoa, em que as relações entre grupos sociais ganham o foco.
Os relatos em primeira pessoa trazem como narrador o personagem Juca que, de um ponto de vista adulto, recupera experiências marcantes em diversas fases de sua vida. Em "Tempo da Camisolinha" trata-se do confronto entre a dor pessoal e o sofrimento alheio: a criança Juca descobre os limites do egoísmo.
"Vestida de Preto" traz o difícil processo do primeiro amor, que perdura da infância até a fase adulta, mas que não consegue ser realizado, justamente pela ânsia de que dê certo. "Frederico Paciência" focaliza a adolescência, quando Juca estabelece uma profunda amizade com um colega de escola, relação encoberta pelos receios que cercam os impulsos homossexuais.
Finalmente, em "Peru de Natal", Juca se vale da segurança de seus 19 anos para enfrentar a imagem repressora do pai, ofertando uma deliciosa ceia para a família, sempre avessa a grandes prazeres.

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