São Paulo, quinta-feira, 5 de dezembro de 1996
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Livro revela as diferentes faces do Brasil

DANIELA ROCHA
DA REPORTAGEM LOCAL

Um livro reúne imagens de três fotógrafos que têm como lema sair pelo Brasil registrando o povo e a natureza.
"Brasil Retratos Poéticos", que será lançado hoje, às 19h, na Casa da Fotografia Fuji, traz fotos feitas durante vários períodos nas carreiras de Araquém Alcântara, Bruno Alves e José Caldas.
Cada foto vem acompanhada de um poema breve de Raimundo Gadelha, em português e inglês.
Araquém Alcântara, 45, que completará 25 anos de carreira como fotógrafo em 97, afirmou que objetiva expor o que há de desconhecido no Brasil e a face de seu povo. "Faço um trabalho voltado para a antropologia, mostrando as pessoas e os cenários", disse.
Em uma das fotos que integram o livro, Alcântara mostra a fachada de duas casas da cidade de Xique-Xique do Igatu, um pequeno vilarejo na Chapada Diamantina que tem cerca de 200 famílias. "É uma cidade que viveu o boom do diamante por volta de 1800 e foi abandonada. Hoje é meio Macondo, a cidade de 'Cem Anos de Solidão', perdida no tempo."
Outra foto mostra a Estação Ecológica do Taim, no Rio Grande do Sul. Em cena que lembra os Lençóis Maranhenses, ossos de um boi permanecem sobre a areia até serem encobertos por ela.
"Essa foto tem clima de sertão, mas é de um lugar próximo à lagoa dos Patos, onde venta muito. É tão louco que não muito distante dali há uma lagoa de 20 mil hectares."
A foto de um macaco muriqui é um dos destaques na seleção de José Caldas, 32. "Desde 91 registro esse macaco, que é considerado o maior das Américas, mas que está em extinção." O macaco da foto é de Caratinga (MG), onde alguns animais estão sendo estudados. "Ele recebeu o nome de Nilo, mas é tão calmo que já ganhou o apelido de Zen", conta.
Cenas da região do Baixo São Francisco já renderam até prêmio a Caldas. Duas cenas chamam atenção no livro: a de um menino carregando uma bacia com roupas lavadas no rio e um pescador tirando um dourado da rede. "Tenho uma aproximação afetiva com esse lugar porque nasci em Maceió e fui criado em Aracaju. Gosto de fotografar bicho e de andar no mato. Gosto de gente do mato."
Bruno Alves, 36, também coleciona histórias ao viajar pelo Brasil fotografando. Em uma de suas fotos no livro, registrou uma cena da canoa em que era transportado.
"Estava indo para Piaçabuçu, um povoado na foz do São Francisco. Quando cheguei, a vila estava deserta e então apareceu um senhor de terno branco, chapéu branco e short -uma mistura de bluesman com pai-de-santo. Ele me cumprimentou e só então as pessoas do vilarejo começaram a aparecer. É como se ele tivesse que aprovar a chegada do visitante."
Apesar de achar um desafio fotografar gente, uma das fotos reveladoras é a do Poço Encantado -feita na Chapada Diamantina, na Bahia-, que mostra o movimento do calcário durante a vistoria de um mergulhador. "Nessa ocasião verificou-se que aquele poço de água cristalina tinha 50 metros de profundidade", disse.

Livro e exposição: Brasil Retratos Poéticos
Quando: hoje, às 19h; seg a sex, das 9h às 19h, e sáb, das 13h às 17h; até 20 de dezembro
Onde: Casa da Fotografia Fuji (av. Vereador José Diniz, 3.400, Campo Belo, tel. 011/533-7367)
Preço do livro: R$ 39 (144 págs.)

Texto Anterior: O que importa é jogar grande
Próximo Texto: Obra mostra perfil ecológico de ilhas
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.