São Paulo, quinta-feira, 5 de dezembro de 1996
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'Não faço hits, escrevo canções', diz Phil Collins

PAULO VIEIRA
ENVIADO ESPECIAL A GENEBRA

O inglês Phil Collins já foi por várias vezes o número 1 da parada norte-americana "Hot 100" da revista Billboard, a mais respeitada do mercado fonográfico mundial.
Entre 84 e 85, três singles chegaram ao topo, proeza anteriormente só digna, entre vocalistas masculinos, de Elvis Presley, Michael Jackson e Andy Gibbs (Bee Gees).
Mesmo assim, rechaça a pecha de "hitmaker". "Eu não faço hits, eu escrevo canções", disse ele anteontem com certa contrariedade. Mais: canções hesitosas como "In the Air Tonight" ou "'Sussudio" nascem por acaso, "definitivamente". Sua revolta não parece calculada. "Passo 80% do tempo das entrevistas que dou me defendendo. Dizem que tenho uma fórmula para fazer hits."
Em Genebra, a poucos quilômetros da vila onde mora, na Suíça, Collins recebeu jornalistas, num esforço de divulgação de "Dance Into the Light", seu álbum de 96.
A maior novidade do disco é a volta do músico à bateria acústica. A decisão se deve a um acerto de contas pessoal. Collins quebrou o pulso e passou a achar que já não poderia tocar bateria.
Leia a seguir os principais trechos da entrevista concedida à Folha pelo ex-vocalista do Genesis.
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Folha - Durante os anos 80, o sr. chegou várias vezes ao número 1 do Hot 100 da Billboard. O sr. não repetiu essa performance nos anos 90. Isso o aborrece?
Phil Collins - Eu entendo sua pergunta. Eu gostaria que minhas músicas chegassem ao número 1, mas não as faço pensando nesse objetivo. Não faço música para massas, apenas as escrevo. Costumo passar 80% do tempo das entrevistas que dou me defendendo. Dizem que tenho uma fórmula para fazer hits. Acredite, minhas canções nascem por acaso. Eu não faço hits, eu escrevo canções.
Folha - Em seu último disco há duas canções que soam como "juju music", com grande influência africana nas guitarras.
Collins - Eu ouço Youssou N'Dour. Gosto muito de sua música desde metade dos 80. Mas eu não estou na África, eu sou um baterista. Eu ouço bateristas influenciados pela música africana. Uma das músicas do disco, "Lorenzo", tem musicalidade africana porque a letra fala da África.
Folha - Isso me faz pensar que suas músicas são feitas ao acaso.
Collins - Sim, completamente por acaso. Num hotel em Munique (Alemanha) eu escrevi 16 versões musicais para "Wear my Hat". Depois, em casa, escolhi a melhor e comecei a desenvolvê-la. A letra veio espontaneamente. Eu não a escrevi, eu cantei assim como veio à minha cabeça.
Folha - O sr. chamaria isso de método?
Collins - Eu lembro do momento em que compus "In the Air Tonight". Achei o ritmo que queria na bateria eletrônica e o repeti no teclado. Quatro minutos depois, vi que era hora de cantar. No Genesis, ensaiávamos e ensaiávamos. A voz vinha por último, havia muita música, muita preocupação com os instrumentos.
Então, comecei a cantar, e o que cantei foi "I can feel coming in the air tonight/I've been waiting for this moment...". Eu não havia escrito nada, não tinha razão para cantar aquilo. Foi por acaso.
Folha - Há um aviso em seu último disco, dizendo que não há nele bateria eletrônica. Por quê?
Collins - Eu repentinamente percebi que estava começando a esquecer de tocar bateria. E também achei que estava me tornando um pouco previsível com a bateria eletrônica. E, além disso, quebrei meu pulso na última turnê. Eu queria tocar bateria para saber se ainda poderia tocar bateria. Queria tentar algo difícil.
Folha - Seu primeiro disco solo foi feito, segundo uma declaração sua, porque o sr. se divorciava. O segundo, "Both Sides", também ocorreu após uma separação. Seus problemas conjugais são uma fonte de inspiração?
Collins - Em "Face Value", minha mulher me deixou. Eu estava chateado com isso. Em "Both Sides", eu deixei minha outra mulher. Entre os dois discos, eu produzi três, quatro discos. Não é o único tema que canto. Ninguém gosta de falar sobre si mesmo. Eu não ligo, eu falo do que sinto.
Folha - Estou certo em achar alguma religiosidade em "Dance Into the Light"?
Collins - Não. Eu não sou uma pessoa religiosa. Quando era hora de dar nome ao disco, alguém falou que "Dance..." não era bom porque pareceria religioso. Há algumas coisas religiosas como (o verso) "take me down to the water' -que é também um gospel de batismo. A minha música expressa alguma coisa que faz você se sentir bem, mas não sou religioso.
Folha - Quais os planos para a big band?
Collins - Reuni-la novamente. É um projeto mais musical que o "Brand X", que era só diversão. É uma das coisas que eu mais quero. Tocar com Tony Bennett, é fantástico. Gravamos nossa performance no último festival de Montreux, só tenho que escolher os takes para o disco que farei o ano que vem.

O jornalista Paulo Vieira viajou a convite da WEA Music.

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