São Paulo, sexta-feira, 6 de dezembro de 1996
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Boas notícias no BID

CELSO PINTO

Pela primeira vez, nos últimos dez anos, o Brasil deverá conseguir do BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento) mais recursos do que terá que pagar a ele em amortizações e juros de empréstimos antigos. Isso não acontecia desde 1986, o ano que antecedeu a moratória da dívida externa.
Todos os números na relação do Brasil com o BID são recordes neste ano, diz o ministro do Planejamento, Antonio Kandir. O total dos desembolsos do BID soma US$ 820 milhões, comparáveis a US$ 490 milhões no ano passado e apenas US$ 244 milhões em 1990.
Este total vai superar os pagamentos de amortizações e juros ao BID em US$ 175 milhões, fazendo com que as transferências líquidas do banco ao Brasil sejam positivas.
O total de empréstimos aprovados pela direção do BID neste ano chega a US$ 1,685 bilhão, comparáveis com US$ 1,582 bilhão no ano passado, e quatro vezes maior do que em 1990. O total de empréstimos efetivamente contratados sobe a US$ 1,573 bilhão este ano, o que se compara a US$ 752 milhões no ano passado e é dez vezes maior do que o valor de 1990.
Kandir diz que este enorme avanço na relação com o BID é fruto de dois fatores principais: a melhora da situação macroeconômica brasileira e o interesse do banco na integração regional do Mercosul. Na reunião com o BID, em setembro, o Brasil apresentou detalhadamente os 42 projetos que elegeu como prioritários para investimentos nos próximos anos. O BID se comprometeu a financiar 16 deles.
A verdade é que o BID deu um salto na sua presença no Brasil e hoje é um parceiro mais presente do que o tradicional Bird (Banco Mundial). A distância entre as duas instituições já foi enorme, e o Brasil foi, durante muito tempo, o maior cliente do Bird.
Não mais. O programa de contratação de empréstimos discutido com o BID, segundo Kandir, é de US$ 2 bilhões. O Banco Mundial, por sua vez, prevê contratações também de US$ 2 bilhões para seu ano fiscal de julho deste ano ao final de junho de 97.
O programa do BID inclui um empréstimo, recém-assinado, de US$ 300 milhões para o BNDES. Será usado num programa de empréstimos para pequenas e médias empresas de US$ 900 milhões, dos quais um terço virá do BID, um terço do Eximbank japonês e um terço do próprio BNDES.
Está em estudos, também, a criação de um mecanismo de seguro de crédito para pequenas e médias empresas junto ao BNDES. A idéia é que este fundo assuma até 75% do risco nos empréstimos dos agentes privados a estas empresas.
Kandir vê nas boas notícias do BID mais uma prova de que não haverá maiores dificuldades em equacionar o financiamento necessário para cobrir o desequilíbrio das contas externas. É verdade, mas desde que o desequilíbrio não seja percebido como estando numa trajetória explosiva, ainda que a longo prazo. Neste caso, em algum momento seria inevitável haver uma retração dos financiadores externos e as instituições multilaterais não seriam uma exceção.
Os "mercocratas"
Os que acham que o Mercosul está precisando criar, rapidamente, uma feição institucional mais pesada, e criar seus "mercocratas", deveriam meditar sobre a experiência da Suécia.
Os suecos só entraram na União Européia em 94, depois de um plebiscito em que o "sim" ganhou do "não" por um fio de bigode. Hoje, um dos problemas que tem consumido a Suécia é a disputa com os burocratas da União Européia em torno dos balanços das crianças.
Nos jardins de infância suecos, o normal é que os assentos dos balanços guardem uma distância entre si de 50 centímetros. A norma da União Européia, contudo, é que esta distância seja, no mínimo, de 70 centímetros. Não dá simplesmente para ignorar os "eurocratas": as seguradoras, no âmbito da União Européia, usam a norma dos 70 centímetros. Ou as escolas reformam seus balanços, ou assumem o risco.
No passado, os "eurocratas" já criaram caso ao fixar uma curvatura mínima para o pepino produzido na Comunidade e uma esfera mínima para a maçã. O que não estava na norma não era nem pepino, nem maçã, por mais que os olhos dissessem o contrário.

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