São Paulo, sexta-feira, 6 de dezembro de 1996
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Escândalo derruba deputado aliado de FHC

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Um novo escândalo no Congresso provocou a destituição do líder do PTB na Câmara, deputado Pedrinho Abrão (GO), da Comissão Mista de Orçamento e poderá levar à cassação de seu mandato.
O presidente da Câmara, Luís Eduardo Magalhães, criou ontem uma comissão para investigar a acusação de cobrança de propina.
O PTB de Pedrinho Abrão é um dos partidos que apóiam o governo do presidente Fernando Henrique Cardoso no Congresso.
O deputado teria pedido à empreiteira Andrade Gutierrez 4% de comissão para conservar no Orçamento de 97 os recursos necessários à construção da barragem do Castanhão, no Ceará, conforme reportagem publicada ontem pelo jornal "O Globo".
Abrão ocupava até ontem a subrelatoria do Orçamento para emendas do Ministério do Meio Ambiente e Recursos Hídricos.
A suposta cobrança de propina foi levada ao conhecimento do presidente Fernando Henrique Cardoso pelo ministro Gustavo Krause (Meio Ambiente), na última terça-feira.
Apuração
Luís Eduardo e o presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), querem um ritual rápido para a investigação da acusação.
A Folha apurou que Sarney e Luís Eduardo pretendem evitar que a imagem do Congresso sofra um novo desgaste.
O presidente da Câmara também quer pressa na solução do caso por temer que o surgimento de novas acusações resulte na criação de uma nova CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) do Orçamento, como a que ocorreu em 1993/94. Essa CPI sugeriu a cassação de 18 parlamentares. Após os trabalhos, seis foram cassados e quatro renunciaram por temer a cassação.
A acusação
Na conversa, o líder do PTB teria condicionado a manutenção das verbas para a barragem do Castanhão ao pagamento do suposto suborno.
A Comissão de Orçamento é presidida pelo deputado Sarney Filho (PFL-MA), que indicou o substituto de Abrão: Paulo Gouvea (PFL-SC). "É um fato isolado e terá apuração rigorosa. Ninguém pense que a comissão é um balcão de negócios", disse.
Ele afirmou que a saída de Pedrinho Abrão da comissão não atrasará a votação do Orçamento de 97. "Vamos votar o Orçamento no Congresso até 15 de dezembro", disse o deputado.
A Andrade Gutierrez marcou para hoje uma reunião da diretoria da empreiteira para definir a sua posição com relação ao novo escândalo do Orçamento. Ontem, a empresa não quis se pronunciar.
Disputa
No início deste ano, Sarney Filho tentou impedir que Abrão assumisse qualquer relatoria setorial no Orçamento de 97.
A indicação de Abrão para a relatoria foi feita pelo líder do PFL, Inocêncio Oliveira (PE).
Graças ao líder, Abrão conseguiu mudar da relatoria de agricultura para a de meio ambiente, que inclui verbas para irrigação.
Ele chegou a disputar a relatoria de infra-estrutura, que mobiliza R$ 1,2 bilhão em investimentos do DNER (Departamento Nacional de Estradas de Rodagem).
Inocêncio alega que manteve Abrão na relatoria porque ele disse que romperia a aliança com o PFL caso seu nome fosse vetado.
Composição
A comissão criada pelo presidente da Câmara para investigar as acusações contra Pedrinho Abrão é composta pelos seguintes deputados: Roberto Valadão (PMDB-ES), Hélio Bicudo (PT-SP), Adylson Motta (PPB-RS), Jairo Carneiro (PFL-BA) e Ronaldo Perim (PMDB-MG).

LEIA MAIS sobre o novo escândalo do Orçamento nas págs. 1-6 e 1-7

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