São Paulo, sexta-feira, 6 de dezembro de 1996
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Canadense confessa sequestro

AMIR LABAKI
DO ENVIADO ESPECIAL A AMSTERDÃ

O ponto alto de "Blind Faith - Requiem For Revolution" (Fé Cega - Réquiem para Revolução), documentário da competição de vídeo de Amsterdã-96, é a conclusão final da realizadora Judy Jackson quanto ao envolvimento do casal de namorados canadenses Christine Lamont e David Spencer no sequestro do empresário brasileiro Abílio Diniz, no final de 1989.
"David confessou a culpa para mim após a última entrevista, com a câmera desligada. E não me pediu segredo", disse Jackson.
A confissão não é explicitada em "Blind Faith", que termina contudo por defender a tese da culpabilidade de Lamont e Spencer. A extradição do par canadense, condenado a 28 anos de prisão, tem sido tema de disputa judicial.
No vídeo, Christine nega participação no sequestro. David Spencer recusa-se a assumir uma posição.
"Blind Faith" mostra o vínculo deles com a militância de extrema esquerda na América Latina a partir da Manágua ainda sandinista do final dos anos 80.
Jackson interpreta o sequestro de Diniz em um esquema geral de derradeira atuação guerrilheira internacional, cujos limites na América Latina seriam a revolução cubana de 1959 e o término da guerra civil em El Salvador em 1989.
O dinheiro arrecadado com o sequestro seria destinado à luta da extrema esquerda salvadorenha.
As imagens mais fortes são de um vídeo amador feito no cativeiro logo após a prisão dos sequestradores, em 1989. Quatro brasileiros são entrevistados.
Dom Paulo Evaristo Arns defende a inocência de Lamont. Bóris Casoy repudia as pressões canadenses por alterações na legislação brasileira que favoreceriam a extradição. O senador Romeu Tuma detalha a atuação da Polícia Federal no caso. Por fim, o deputado federal e articulista da Folha Fernando Gabeira compara em defasagem temporal o sequestro de Diniz ao soldado japonês que, solitariamente, estendeu o final da Segunda Guerra escondido numa ilha por anos e anos.
"Blind Faith" é um vídeo contundente, mas irregular. Jackson parece tê-lo estruturado acreditando na tese da inocência.
A primeira metade de seus 80 minutos traça um perfil simpático de Lamont e Spencer. Termina por lançar novas luzes sobre o caso Diniz, mas a própria diretora, no vídeo e na entrevista à Folha, reconhece não serem poucas as dúvidas que restam.
(AL)

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