São Paulo, sábado, 7 de dezembro de 1996
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Mulher teria pego mais de 34 crianças

CRISTINA RIGITANO
DA SUCURSAL DO RIO

A polícia acredita que mais de 34 crianças passaram pelas mãos da parapsicóloga Eneida Magalhães. Os menores teriam sido apanhados ilegalmente em outros Estados do país.
"Tudo leva a crer que ela usava os mesmos nomes para menores diferentes", afirmou o detetive Fernando César Barbosa, da DPCA (Divisão de Proteção à Criança e ao Adolescente).
O detetive diz que tem evidências. O depoimento de Isabel Cristina de Araújo Ramalho, 38, seria uma dessas evidências. Ela afirmou anteontem que, durante os dois anos em que morou na casa da parapsicóloga, conhecera apenas 9 das 13 crianças encontradas com Eneida Magalhães.
Os outros quatro menores foram reconhecidos por nome. Segundo ela, Eneida teria dito que as quatro crianças estavam com vovó Ruth.
"A vovó Ruth é quem recebia as crianças", diz o detetive. A polícia investiga se vovó Ruth é uma pessoa ou um código usado pela parapsicóloga para pessoas que teriam recebido as crianças. A Interpol investiga se as crianças estão fora do país. A parapsicóloga diz que vovó Ruth é ficção.
A Folha não conseguiu falar com Eneida sobre a suspeita da polícia.
Segundo o resultado do exame de corpo de delito do adolescente Lucas, 15, divulgado ontem, ele tem uma anomalia congênita no coração. O exame derrubou a tese de tráfico de órgãos, que havia sido formulada pela polícia.
O rapaz tem uma cicatriz debaixo do braço, que levantou suspeitas. "Todas as crianças que deram a ela são doentes", disse a mãe da parapsicóloga, Marilda, que ontem visitou as 13 crianças que estão no Centro Municipal de Ação social Integrada Ayrton Senna.
"Essas crianças podem ter servido de fachada ou, como eram doentes, ninguém as quis", disse o delegado José Moraes, da DPCA.
Uma das crianças sofre de hidrocefalia e outra tem o pé torto.
Os investigadores também acharam estranhas as circunstâncias da morte de Sérgio Alexandre Pires, um dos maridos de Eneida Magalhães. Em 4 de setembro de 87, dois homens invadiram a casa dele, em Sampaio (zona norte do Rio), mataram-no e fugiram numa moto.
Isabel Cristina de Araújo Ramalho e Hélio Ferreira dos Santos -conhecido como Efraim na seita de Eneida Magalhães- testemunharam o crime.
Em 11 de junho de 87 -três meses antes da morte-, Isabel Cristina deu queixa à polícia de agressão física contra Pires. Ele teria dado socos nela e ameaçado Eneida Magalhães com uma faca.
A parapsicóloga foi testemunha de acusação e disse que tinha 15 filhos com Pires. Hoje, ela diz só ter 13. Ela foi presa semana passada com 34 certidões de nascimento.

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