São Paulo, sábado, 7 de dezembro de 1996
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Livro conta a história dos executivos

MARCIO AITH
DA REPORTAGEM LOCAL

Uma tentativa esforçada e divertida de retratar a vida dos executivos e gerentes de corporações desde a estabilidade monótona que lhes proporcionavam as Companhias das Índias Britânicas, no século 17, até o terror das demissões dos dias de hoje.
A obra de Anthony Sampson, jornalista inglês especializado em livros sobre o mundo empresarial, tenta traçar a história dos homens (e também das mulheres) de negócios sob um ponto de vista social.
Usando relatos de escritores famosos, como Sinclair Lewis e Charles Dickens, o livro trata os homens da companhia como as pessoas que, embora nunca tenham sido vistas assim, formaram durante décadas o pano de fundo diário para as famílias de classe média nos EUA, Europa e Ásia.
"O Homem da Companhia" classifica os executivos como aqueles que detêm algum tipo de poder dentro de corporações, mas não são donos dela. Por essa razão, Sampson associa o surgimento deles ao nascimento das sociedades por ações, que tomaram forma na metade do século 19 e se expandiram com as ferrovias.
Essas sociedades eram "dirigidas por empreendedores que estavam distantes dos milhares de acionistas".
O livro é o produto de um farto trabalho de pesquisa. E é saboroso por apresentar um texto simples, despretensioso. Sampson busca a essência do que provavelmente passou dentro da cabeça dos executivos e gerentes ao longo do tempo.
Um exemplo é o relato feito pelo autor do ensaísta Charles Lamb, "o primeiro cronista verdadeiro da vida de escritório".
Lamb entrou para a Companhia das Índias Orientais em 1792, aos 17 anos, como um mero guarda-livros. Ascendeu dentro da corporação, mas tinha verdadeira ojeriza pelo seu trabalho. "Seu dia de seis horas dificilmente era pesado e não era muito rígido. Quando o censuravam por chegar tarde, respondia que compensava saindo mais cedo. Mas, depois de 20 anos disso, viu sua vida escapulindo. Sua carga de trabalho diminuiu e seu salário dobrou, mas ele continuava acreditando que sua vida estava se perdendo."
Sampson relata com a mesma graça o surgimento das grandes companhias neste século. E as transformações impostas aos executivos por processos como o "fordismo" e o "taylorismo".
A segunda metade de "O Homem da Companhia" é dedicada à revolução causada no mundo ocidental pela competição asiática, pela coqueluche da reengenharia e pela globalização.
O autor conclui que os executivos estáveis de ontem deram lugar a homens inseguros e em menor número. Mas muito bem pagos.
A ênfase dada pelo autor ao momento atual talvez seja o único problema com o qual o leitor possa se deparar. Em determinado momento da leitura, Sampson parece dar mais importância às transformações dentro das companhias do que aos executivos, até então protagonistas

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