São Paulo, domingo, 8 de dezembro de 1996
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Silêncio no vale-tudo

JANIO DE FREITAS

Os acontecimentos entre a chantagem atribuída ao deputado Pedrinho Abrão e a divulgação dela, segundo a sequência narrada pelos próprios governistas acusadores, implica a evidência de que, pelo menos dois dias antes de "O Globo" e o "Correio Braziliense" darem ao caso a dimensão de escândalo, já Fernando Henrique Cardoso estava informado de tudo. Mas preferiu o silêncio, sem qualquer providência -como se não fosse um caso grave de corrupção.
A passividade, resultante em proteção para o acusado líder do PTB na Câmara, evitava que fossem prejudicadas as negociações que Fernando Henrique estava fazendo, naqueles mesmos dias, para adquirir o apoio dos deputados petebistas ao projeto de reeleição.
Qualquer pessoa, e muito mais quem esteja investido de autoridade pública, tem a obrigação, ética e legal, de agir contra qualquer tipo de extorsão chegado ao seu conhecimento. Além disso, Pedrinho Abrão estaria trapaceando com o Orçamento da União, ou seja, com os cofres públicos de que o presidente da República deve ser o maior guardião.
Entre as obrigações de Fernando Henrique estava, no mínimo, a de dar imediato conhecimento das acusações ao presidente da Câmara, Luís Eduardo Magalhães, para as providências no âmbito legislativo, ou acionar as lideranças governistas para impedirem logo a extorsão e cobrarem as medidas cabíveis. Isto, é claro, se o projeto da reeleição não estivesse acima de qualquer coisa e, portanto, acima da recusa à corrupção.
Recuo para a frente
Se de algo esta coluninha se orgulha, só pode ser do seu desprestígio no governo -e não só no atual. Não foi, pois, em razão de nota aqui publicada, mas com certeza por coincidência só, que em seguida à crítica o ministro Sérgio Motta retirou o critério de "nota técnica" incluído, de repente, na seleção para as concessões de telefonia celular.
A "nota técnica", que é o mais vulgar recurso para as fraudes em concorrências, saiu da telefonia celular tão depressa quanto entrara, mas, instituída pela recente medida provisória 1.531, continua para outras concessões de serviços públicos. E não foi revivida nem é preservada por gratuidade.
Salvação urgente
Dizem que saiu da favela Dona Marta a bala perdida que entrou na Prefeitura do Rio. Qual nada, essa bala caiu do céu. Bem na hora em que, enfim, começava a sair no Rio alguma coisa sobre o custo da multidão de postes espetados na cidade por Cesar Maia e Luiz Paulo Conde.
São os postes mais caros do mundo. Aquele tubo de ferro, revestido de uma tintura que já nos primeiros meses está descascando em feridas ferruginosas, ninguém imaginaria que pudesse custar US$ 9 mil. Com o gasto por Maia-Conde em menos de dez tubos daqueles, compra-se um apartamento de dois quartos na zona sul do Rio.
Outros preços Maia-Conde, se levantados e expostos, exigiriam bala de canhão para ser suplantados no noticiário.

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