São Paulo, domingo, 8 de dezembro de 1996
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Crack invade cidadezinhas de São Paulo

EDMILSON ZANETTI
DA AGÊNCIA FOLHA, EM SÃO JOSÉ DO RIO PRETO

Pequenas e pacatas cidades do norte do Estado de São Paulo, acostumadas com ocorrências banais como furtos de galinhas, passaram a conviver com o consumo de drogas por menores.
Levantamentos da polícia indicam que praticamente todos os pequenos municípios com população que varia de 3.000 a 30 mil habitantes -são cerca de cem, só nas regiões de São José do Rio Preto e Araçatuba- passaram a ter usuários de drogas, especialmente de crack, de um ano para cá.
Como os moradores se conhecem, é fácil identificar os consumidores. Difíceis são os flagrantes, dizem os delegados. Por isso, as estatísticas não refletem a realidade.
Perfil
Em geral, segundo a polícia, o consumidor tem perfil definido: jovem, desempregado, não estuda, usa boné, bermudão, camiseta e tênis. Alguns trabalham na roça.
Os pontos de distribuição geralmente estão em centros maiores, como São José do Rio Preto, Araçatuba, Catanduva e Votuporanga.
O preço de uma pedra de crack varia de R$ 5 a R$ 10.
Em quase todos os casos apurados pela Agência Folha os menores foram levados à droga depois de contatos com pessoas que moram em grandes centros.
L.V.S., 14, fumou crack pela primeira vez no passado. Um primo seu, de São Paulo, levou algumas pedras para a cidade de Paulo de Faria (540 km de São Paulo).
'Amor à primeira vista'
Para o delegado do Deinter (Departamento de Polícia Judiciária do Estado de São Paulo-Interior) Nelson Munhoz Soares Filho, 36, o crack é como "amor à primeira vista: usou uma vez, dificilmente consegue largar".
A nova droga já supera em consumo a cocaína. "Hoje 90% das pessoas que usavam coca passaram a usar crack", diz o delegado Jozeli Donizeti Curti, 40, da Dise (Delegacia de Investigação Sobre Entorpecentes).
As entidades que trabalham com viciados comprovam a tendência da "interiorização" do consumo.
Pelo menos 30% das cerca de 300 pessoas que mensalmente passam pela triagem da Betel -entidade de reabilitação- são de cidades pequenas; 80% consomem drogas (50% crack, 30% cocaína e 20% maconha); 40% são adolescentes.
Furtos
O aumento dos furtos, que em alguns municípios foi de 100% este ano, também está associado às drogas, segundo a polícia.
O número de casos de vandalismo nas pequenas cidades, quase sempre associados ao uso de drogas, também é significativo. Nos 38 pequenos municípios mais próximos de São José do Rio Preto, 436 dos 985 aparelhos públicos da Telesp sofreram algum tipo de dano de janeiro a outubro.

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