São Paulo, domingo, 8 de dezembro de 1996
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Brasileiros foram mercenários de Trujillo

RICARDO BONALUME NETO
ESPECIAL PARA A FOLHA

Quase meio século depois um fato curioso da política externa brasileira agora pode ser conhecido em maiores detalhes: o apoio do país ao governo de um dos mais longevos ditadores latino-americanos, Rafael Leonidas Trujillo Molina, no poder de 1930 a 1961 na República Dominicana.
Com o aval discreto do governo brasileiro do general e presidente Eurico Gaspar Dutra, uma equipe de pilotos ajudou a treinar a força aérea do ditador, de 1948 a 1950.
Apesar de haver venda de armas brasileiras aos dominicanos, a missão dos aviadores não era oficial; os pilotos foram contratados diretamente pelos dominicanos, como mercenários.
O treinamento dado pelos brasileiros foi particularmente importante, pois naquele momento Trujillo estava fraco militarmente e teria sido derrubado por exilados se não fosse por sua Força Aérea.
Um dos pilotos brasileiros -Carlos Alberto de Freitas Guimarães, paulista de Campinas e hoje morador de Araxá, Minas Gerais- teve papel fundamental em impedir uma invasão do pequeno país do Caribe por um grupo de rebeldes que queria depor Trujillo.
Guimarães metralhou um avião invasor em junho de 1949, iniciando a reação das forças dominicanas à invasão, que terminou em fracasso completo.
Ele e seus colegas foram para lá porque naquele momento o Brasil tinha uma elite de pilotos militares desempregados.
Em função de sua participação na Segunda Guerra, o país tinha mandado pessoal para ser formado nos Estados Unidos. Terminada a guerra, não havia lugar para todos na FAB (Força Aérea Brasileira). Aqueles que eram aviadores da reserva foram os primeiros a ser desligados.
Muitos acharam empregos nas companhias de aviação. Nem todos conseguiram, pois a FAB liberou cerca de 400 pilotos. Houve um grupo seleto de ex-pilotos de caça que chegou tarde ao mercado. Estavam maduros para ser contratados pelo governo dominicano.
Sua missão principal era treinar os pilotos da Força Aérea Dominicana. Mas também constituíam uma força eficaz, capaz de eventualmente defender o país de uma invasão dos exilados anti-Trujillo.
'Mercenários, mesmo'
"Nós fomos lá para defender o país, como mercenários. Nós éramos mercenários, mesmo", diz um dos pilotos, José Rafael Martins, mineiro de Belo Horizonte.
Quase todos os mercenários eram da mesma turma de formados nos EUA. Eram sete pilotos de caça e um de bombardeiro.
Estão vivos hoje quatro dos pilotos (Guimarães, Martins, Gilberto Syllos Clark e Nilton Miguel Ajuz). Também foram para lá três mecânicos e dois engenheiros.

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