São Paulo, domingo, 8 de dezembro de 1996
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Juta, semente e talento

DEBORAH GIANNINI

Angélica de Oliveira é a primeira brasileira a vencer o Smirnoff Fashion com aprovação unânime dos jurados
Nem só de Ocimar Versolato vive o mundo fashion brasileiro lá fora. Desbancando 7.000 estilistas de 31 países, a estudante Angélica de Oliveira, 23, conquistou um prêmio inédito na moda para o Brasil: o primeiro lugar no Smirnoff International Fashion Awards" deste ano, concurso de criação de moda que visa revelar novos talentos.
Angélica mostrou um vestido feito em crochê, juta, sementes e madeira e teve a aprovação unânime dos jurados.
O seu segredo é, antes de estilista, ser uma estudiosa. Para criar o modelo do Smirnoff "A Mãe D'água", Angélica passou mais tempo em bibliotecas do que em desfiles. "Pesquisei da mesma forma que pesquisaria para fazer uma crítica de arte", diz ela, que é formada pela Escola de Belas Artes da UFMG e hoje faz curso de extensão de estilismo.
A obra
A lenda da "Mãe D'água", escolhida em função do tema do concurso, "Visão Interior", é a história de uma moça bonita aprisionada por um rei negro nas profundezas do rio São Francisco, que, ao cantar nas noites de luar, transforma suas amarras em vestes. "Escolhi esse folclore mineiro pelo teor poético", conta ela, que buscou significado até nos materiais do vestido.
"A madeira, em algumas culturas, está ligada à fertilidade da mulher, a semente é a transição entre a vida e a morte, o crochê simboliza a metamorfose da `Mãe D'água', e a juta, que é cultivada embaixo d'água, representa as amarras", explica.
Se a música "Arrepio", de Marisa Monte, usada no desfile, encontrou harmonia com o vestido, o mesmo não aconteceu com as modelos selecionadas para usá-lo na etapa internacional, que estranharam completamente o ritmo. "Elas não ensaiaram, teve uma que até tropeçou", afirma ela.
A música é a maior influência nos desenhos de Angélica. "O som tem uma forte ligação com a roupa", diz. Para ela, é fácil identificar as pessoas pelas músicas que ouvem. No seu "walkman", alterna fitas de Alanis Morrisette com Chico Science, e, Stone Temple Pilots com Marisa Monte.
Na hora de se vestir, ela está "mais para menininho do que para menininha", em suas próprias palavras. "Gosto de calça baixa, chuteirinha; gosto de me sentir a vontade", afirma.
O conforto e a sensualidade também são suas preocupações para vestir os outros. "Se uma mulher não tem corpo bonito, pode buscar a sensualidade de outra forma", diz ela.
Arte
Artistas plásticos mineiros, como Marcos Coelho Benjamim e Fernando Lucchesi, têm mais interferência nas linhas de seus croquis do que grandes nomes da moda. Antes de se tornar estilista, Angélica já teve passagem pelo mundo das artes, inclusive com duas exposições individuais em galerias de Belo Horizonte.
Já, quando questionada sobre seus estilistas preferidos, a resposta demora alguns minutos para sair: "Admiro o Tuffi Duek (Forum), principalmente pelo zelo no acabamento", diz. "Também adoraria trabalhar para a Prada."
Quanto aos US$ 10 mil ganhos com a premiação do Smirnoff, Angélica deve gastá-los em uma viagem a Londres, onde pretende estudar no ano que vem.

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