São Paulo, segunda-feira, 9 de dezembro de 1996
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Vale rendeu menos do que o governo aplicou

CHICO SANTOS
DA SUCURSAL DO RIO

Em 53 anos de existência, a Companhia Vale do Rio Doce pagou, em dividendos à União, US$ 1,87 bilhão menos que o capital recebido. A conta inclui uma taxa de remuneração anual de 10%, tanto para os aportes de capital como para os dividendos pagos.
Por esse critério, o governo investiu US$ 5,89 bilhões e recebeu, como dividendos, US$ 4,02 bilhões. A União possui ainda 51% do patrimônio da empresa, que a preços do mercado acionário de 26 de setembro valia US$ 5 bilhões.
Esse valor seria suficiente para cobrir a diferença e deixar um lucro adicional de US$ 3,13 bilhões -ou 53,1% dos investimentos.
Os números constam de um estudo feito por técnicos da área financeira da Vale e obtido pela Folha. A remuneração de 10% ao ano é a taxa de retorno que o estudo considerou para um investimento no setor minerador, tido como de baixo risco (quanto menor o risco, menor a remuneração).
Na opinião dos técnicos que concluíram o estudo, o investimento da União na Vale deve ser considerado um bom negócio, do ponto de vista estritamente econômico.
Números históricos
Esses mesmos técnicos consideram que a privatização da empresa será também um bom negócio, tanto pela realização do lucro obtido como para que o acionista majoritário volte a investir na empresa. Desde 1991, a União não reinveste dividendos nem faz qualquer aplicação na Vale.
A tabela feita pelos técnicos lista, ano a ano, desde 1943, os aportes de capital recebidos da União pela Vale, em dólares históricos (da época do investimento), remunerados a 10% anuais. O mesmo é feito com os dividendos.
Em números históricos, os dividendos somam US$ 788,86 milhões, mais que os US$ 594,14 milhões de aporte de recursos. O primeiro aporte da União recebido foi de US$ 5,87 milhões, em 1943. Remunerados a 10% ao ano, somariam hoje US$ 995,1 milhões.
Os primeiros dividendos recebidos foram de US$ 519 mil em 1952, nove anos depois. A 10% ao ano, eles somariam hoje US$ 35,22 milhões. Desde então, somente em 1987 a Vale não pagou dividendos à União, consequência do seu único prejuízo no período, em 1986.
Os aportes de recursos se concentraram, especialmente, nas décadas de 40, 70 e 80. Na década de 50, o volume de aporte foi zero.
Os técnicos fizeram o mesmo exercício em relação aos aportes e dividendos de todos os acionistas da Vale. A conta, já com a remuneração, deu US$ 8,61 bilhões de aportes e US$ 5,55 bilhões de dividendos, uma diferença de US$ 3,06 bilhões. O valor total das ações da empresa era, em 26 de setembro, de US$ 9,18 bilhões.
Divididos
A leitura dos números dividiu analistas de três bancos de investimentos de primeira linha e do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) ouvidos pela Folha. Todos pediram sigilo dos nomes.
Para o analista do BNDES, a taxa de 10% não é uma boa remuneração, e o fato de o capital não ter retornado totalmente em 50 anos também é um sinal de que a rentabilidade não foi tão boa assim.
Na opinião desse técnico do BNDES, o governo não está vendendo a Vale por considerar que ela é uma má aplicação. Para ele, o momento é de realizar o lucro com a venda do patrimônio da empresa e abater parte da dívida da União.
Essa análise coincide com a do analista de um dos bancos. Os outros dois consideraram que os números mostram a Vale como um bom investimento.
Para um deles, a Vale tem condições de ser melhor ainda nas mãos do setor privado e deve ser vendida. O outro considera que o governo está atendendo mais a uma demanda do mercado do que a uma necessidade sua.

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