São Paulo, segunda-feira, 9 de dezembro de 1996
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Os anões das regionais

LUÍS NASSIF

Cientistas empenhados em identificar os tipos característicos do submundo político brasileiro deveriam dirigir suas lupas para pequenos roedores, de caráter municipal, denominados de "anões das regionais".
Se a imprensa conseguiu inibir a ação dos seus primos do Orçamento, a pouca atenção dada aos espécimens municipais permitiu não só sua proliferação como uma desfaçatez sem limites.
Esses senhores costumam chantagear prefeitos eleitos -muitas vezes, do próprio partido- em troca do direito de indicar os administradores das regionais.
Em grandes cidades, como São Paulo, as regionais são o braço operador da prefeitura, responsáveis diretas pelo bem-estar a que os cidadão têm direito -pagando por seus serviços na forma de impostos- e (importante) pela ação dos fiscais municipais de serviços públicos.
As regionais tornaram-se as repartições preferidas para o jogo fisiológico por várias razões. Quando submetidas a administradores pouco escrupulosos, servem para o vereador-padrinho fazer favor com chapéu alheio, apresentando-se como autor de benefícios realizados com dinheiro público e que fazem parte das obrigações banais de um administrador.
Não raras vezes, no entanto, o jogo fisiológico transcende os limites dos favores individuais.
Há uma avalanche de suspeitas de que existam redes de propinas em muitas regionais, que saem do fiscal e chegam até administradores inescrupulosos -e, dali, para vereadores que os indicaram.
Segundo esses relatos, em São Paulo um vereador inescrupuloso poderia auferir entre US$ 180 mil e US$ 1 milhão por ano por conta de sua indicação.
Os resultados para a comunidade são terríveis. Numa ponta, desmoraliza-se a fiscalização, tanto dos fiscais quanto da Câmara. Na outra, joga-se para último plano a prestação de serviços -prioridade em qualquer administração moderna, muito mais do que obras faustosas.
Batalha
Empenhado em mudar a imagem quando assumiu a prefeitura, Paulo Maluf tentou enfrentar essas demandas. Ficou amarrado por alguns meses e acabou cedendo.
Neste momento, o prefeito eleito de São Paulo, Celso Pitta, trava sozinho sua batalha contra os "anões das regionais", uma luta que não é só sua.
Se não ceder, perderá apoio de parte da bancada. Como dificilmente terá apoio da oposição, o mais provável é que tenha de ceder. E mais uma vez a municipalidade sairá derrotada.
Esse grupo de vereadores não é maioria. Tanto que a Câmara logrou aprovar uma CPI, que até levantou alguns elos dessa corrente.
Mas acabam tendo papel central justamente pela dificuldade dos vereadores sérios acordarem entre si compromissos mínimos que garantam a governabilidade, livrando o Executivo da ação desse espécimen.
É necessário que prefeitos sérios busquem o apoio da opinião pública, da mídia e de vereadores sérios para pactos políticos que garantam a profissionalização da gestão pública.
Será a única maneira de livrar o ambiente política dessa praga.
PAS
Passadas as eleições, a falta de controle sobre o Plano de Assistência à Saúde (PAS) começa a gerar episódios cabeludos, dando razão a alertas feitos por setores de oposição.

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