São Paulo, segunda-feira, 9 de dezembro de 1996
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Sharp volta às origens e vislumbra lucro

MILTON GAMEZ
DA REPORTAGEM LOCAL

O Grupo Sharp finalmente começa a sair do limbo das Bolsas de Valores, dois anos e três meses após a trágica morte do seu fundador, o empresário Mathias Machline, num acidente de helicóptero nos Estados Unidos.
As ações da Sharp, que em junho estavam na lanterninha do mercado, atrás de 160 outros papéis, alçaram a 29ª maior valorização da Bovespa (Bolsa de Valores de São Paulo). Segundo a Economática, até sexta-feira passada, Sharp PN (ação preferencial, sem direito a voto) acumulava variação nominal de 151,67%.
No período, o Ibovespa, índice que mede os papéis mais negociados na Bolsa paulista, subiu 59,87%. Os papéis da Gradiente, única concorrente direta da Sharp com ações em Bolsa, valorizaram-se apenas 4,62%.
A escalada da Sharp na Bovespa contraria a maré de más notícias que assolou o legado de Machline nos últimos anos. Já em 94 o endividamento elevado, estimado atualmente em R$ 250 milhões, forçava o grupo a um processo de reestruturação empresarial que persiste até hoje. De lá para cá, prejuízos se acumularam, executivos da Sharp desentenderam-se com os herdeiros de Machline e a empresa perdeu mercado.
No ano passado, a Sharp fechou o balanço contábil no vermelho, com perdas de R$ 28,6 milhões. Em 96 até setembro, o prejuízo real era de R$ 9,6 milhões.
Sua participação no mercado de televisores, que chegou a 22,5% em 91, caiu para 13,7%.
Bons ventos
Esses e outros dissabores parecem ter sido superados. Ou, pelo menos, há sinais de que o futuro da Sharp será promissor. É o que indicam a recente reação do papel nas Bolsas e as análises positivas dos especialistas.
O analista Pérsio Dangot, do Banco Fator, recomenda a compra de Sharp PN. Primeiro, porque os prejuízos da companhias vêm caindo (R$ 19,8 milhões em junho) e devem se transformar em lucro de cerca de R$ 3,5 milhões em 96 e de R$ 35,5 milhões em 97.
Segundo, porque a empresa profissionalizou sua diretoria e decidiu concentrar suas atividades no setor de eletrônicos de consumo -um dos mais beneficiados pelo Plano Real, com vendas estimadas em R$ 19,2 bilhões neste ano.
Na semana passada, a Sharp anunciou que está abandonando o setor de telecomunicações. O grupo irá vender suas participações na Sid Telecomunicações e Controles, na STS Sistemas e Telecomunicações e na Lucent Technologies Network Systems. Espera-se, ainda, que saia da área de automação bancária, com a venda da Sid Informática.
Juntos, os produtos de telecomunicações e de informática representam cerca de 27% do faturamento da Sharp S/A, previsto em R$ 1,1 bilhão neste ano.
Reestruturação
A ordem agora é voltar as baterias para TVs, videocassetes e microondas, que respondem pelos 73% restantes do faturamento.
"A volta às origens é saudável e deve melhorar o desempenho da empresa, pois a Sharp não tinha condições de competir nos outros setores e está cada vez mais competitiva naquilo que sabe fazer, eletrônicos de consumo", diz o analista do Fator.
Daniela Bretthauer, especialista do Unibanco, também vê com bons olhos a reestruturação do grupo, que tinha 30 empresas em 93, hoje tem 18 e deve terminar 97 com apenas 10. O quadro de funcionários caiu de 15 mil, no pico, para 5,4 mil. Sua recomendação, "neutra", é de cautela.
"A empresa agora ficará mais lucrativa, pois ganhava mais no setor de bens de consumo".

E-mail: papeis@uol.com.br

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