São Paulo, segunda-feira, 9 de dezembro de 1996
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Autor percebeu que "família não iria continuar"

CARLOS EDUARDO LINS DA SILVA
DE WASHINGTON

O que mais impressiona no livro e no depoimento dado à Folha por Mikal Gilmore é sua extraordinária honestidade.
Depois de ter se escondido por décadas da sua própria realidade existencial, ele resolveu bater de frente com ela. "Tiro no Coração" é comovente, acima de tudo, por essa coragem de alguém que aprendeu a lidar com a tragédia em sua dimensão máxima.
"Eu me dei conta de que tinha crescido numa família que não iria continuar. Havia quatro filhos e nenhum de nós teve sua própria família", disse ele.
"É como se o que tinha acontecido à nossa família tivesse sido tão horroroso que tinha que terminar conosco, tinha que parar, que ter filhos seria correr o risco de perpetuar aquela desgraça."
Filhos
Ele resolveu não ter filhos, embora os tenha desejado por anos. "Eu me lembro de segurar bebês de amigos por horas, sentindo que havia alguma coisa muito terna naquilo. Mas por que fazer crianças viverem com esse legado?"
Generosidade
"Tiro no Coração" é um livro sobre o autor, mas preocupado com o leitor. É um trabalho generoso como a renúncia de Gilmore à paternidade.
Ele o escreveu em parte para se curar, mas também para ajudar a sociedade a entender que a violência e o mal definitivamente existem e talvez sejam incompreensíveis e inexplicáveis.
Solidariedade
Ao mesmo tempo, afirma que a solidariedade e a graça também existem, e podem reorientar vidas destinadas aparentemente à desgraça, como a sua própria.
As chances de Mikal ter tido fim semelhante aos de Gary, Gaylen e Frank Jr. eram enormes. A sensibilidade, o amor pelas artes, a paixão pelo belo evitaram que isso acontecesse.
Seu depoimento pode ajudar outros a terem a mesma sorte.
(CELS)

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