São Paulo, segunda-feira, 9 de dezembro de 1996
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Mailer escreveu sobre irmão condenado

CARLOS EDUARDO LINS DA SILVA
DE WASHINGTON

Quando Norman Mailer e seu colaborador Larry Schiller começavam a escrever "A Canção do Carrasco" em 1977, Mikal Gilmore estava iniciando sua segunda fase de negação da família (a primeira havia sido interrompida com a condenação de Gary à morte, que reuniu brevemente Mikal, sua mãe, Bessie, e o irmão Frank Jr.).
Por isso, ele não colaborou com o projeto de Mailer. Mas, após ter lido o resultado final, telefonou para o romancista e o cumprimentou pelo "tremendo trabalho". No final de 1991, ao começar a pesquisa para "Tiro no Coração", Gilmore pediu ajuda a Mailer e Schiller e foi muito bem recebido.
As dezenas de horas de gravações feitas pelos dois com Bessie e Gary foram postas à sua disposição. "Ouvir as vozes de minha mãe e meu irmão depois de tantos anos aprofundou minha relação com eles", diz Gilmore.
"A Canção do Carrasco" é um dos mais notáveis trabalhos da excelente obra de Mailer. Em 1029 páginas, ele reconstruiu os nove meses que se passaram desde a liberdade condicional de Gary Gilmore até sua execução. "Mailer conseguiu contar uma história complexa e perturbadora sem tentar impor um julgamento pessoal; e Schiller havia feito um escrupuloso trabalho de pesquisa", avalia Gilmore.
O livro de Mailer é um magnífico exemplo de jornalismo em forma de ficção. Factualmente correto, ele usa o estilo do romance para contar a história de vida de Gary Gilmore, sua namorada, Nicole Baker, e suas vítimas.
Também é um ensaio de antropologia social de rara qualidade, que desvenda o universo do oeste dos EUA: sua pobreza, a vida das famílias que moram em "trailers", a violência nas relações domésticas, o cotidiano das cadeias, a corrupção policial.
O talento de Mailer por "A Canção do Carrasco" foi recompensado com o prêmio Pulitzer de 1979. O livro foi transformado em filme em 1982 com direção de Schiller (um especialista em docudramas para a TV) e diálogos de Mailer.
Tommy Lee Jones ("O Fugitivo") fez o papel de Gary Gilmore, num desempenho eletrizante. O filme não é tão impressionante quanto o livro, mas é superior à média do gênero.
(CELS)

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