São Paulo, segunda-feira, 9 de dezembro de 1996
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

O lobby do sequestro

BORIS CASOY

Sob o pretexto de busca de justiça e sob a capa de uma ação em defesa dos direitos humanos, continua de pé a campanha pelo perdão aos sequestradores do empresário Abílio Diniz, do grupo Pão de Açúcar.
Agora, pretende-se obter a expulsão dos sequestradores estrangeiros e o indulto ao único brasileiro da quadrilha. Seria um ato do presidente Fernando Henrique Cardoso.
É mais um lance da campanha internacional pela libertação desses sequestradores. No Canadá, pretendeu-se mostrar, por meio de um poderoso lobby, que os sequestradores canadenses foram presos arbitrariamente, eram inocentes e estavam sendo submetidos a um tratamento na prisão semelhante ao do filme "Expresso da Meia-Noite".
Depois, veio a trapalhada do embaixador do Canadá, que abusou de sua condição de diplomata ao fazer uma peregrinação por gabinetes do Congresso, pressionando para tentar aprovar um tratado sobre presos que, espertamente, propiciaria a libertação dos sequestradores canadenses.
Essa etapa da campanha encerrou-se com a vergonhosa convocação de rede nacional de rádio e televisão, quando o então presidente do Senado Humberto Lucena fez sua defesa no caso lendo como de sua autoria um press release produzido pela embaixada do Canadá.
Condenados, os sequestradores cumprem pena em São Paulo. Todos os meios de defesa e recursos aos tribunais superiores lhes foram propiciados. Não restam dúvidas sobre a autoria. Vários deles entraram no país clandestinamente, com nomes e passaportes falsos. No cativeiro de Abílio Diniz foi encontrado um caixão de defunto, revelando até onde iriam os sequestradores...
Apesar das pressões, prudentemente, a Anistia Internacional, defensora de presos políticos, preferiu silenciar nesse caso. Os defensores dos sequestradores alegam que estes foram vítimas de tortura. O fato deve ser apurado, e os torturadores -se for o caso-, punidos. No entanto, de maneira alguma isso inocenta os sequestradores.
O presidente Fernando Henrique Cardoso tem em mãos a caneta e o "Diário Oficial". Pode, num lance de aparente generosidade, libertar os sequestradores. No dia seguinte, será difícil explicar ao país -onde o crime de sequestro cresce em proporção geométrica- por que, quando a polícia consegue deter um bando criminoso internacional, e a Justiça, condená-lo, o presidente da República o liberta, num óbvio incentivo à indústria do sequestro.

Texto Anterior: O ITR de novo
Próximo Texto: TV Cultura; Dois pesos; Aos poucos; Excesso e falta; Descrédito; Fumo proibido; Protestódromo; Repúdio; Cupins; Boas festas
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.