São Paulo, segunda-feira, 9 de dezembro de 1996 |
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Viva Bebedouro
JOSIAS DE SOUZA São Paulo - Fidel Castro é encantador. Ou, por outra, é sedutor. Está meio passado -o cenho sulcado, os pêlos nevados, a barriga espetada. Mas continua ateando paixões em cada esquina. Por ele há quem...Antes de concluir o raciocínio, abro um parêntese. Convoco o leitor à seguinte reflexão: imagine que tenha de ir a um acampamento. Sim, você mesmo. Em um acampamento. Suponha que tenha de saltar da cama às cinco e meia da matina. Não um dia ou dois. Diariamente. Suponha mais: que tenha de tomar banho gelado e pegar no pesado, colher laranjas. Fecho o parêntese. E concluo a frase: ...Por ele há quem cometa a loucura de largar tudo para trabalhar na lavoura. E agora não se está falando mais de uma situação hipotética. Não, não. Está na Folha de hoje: 30 jovens brasileiros preparam-se para ir a Cuba. Irão apanhar laranjas nos campos de Fidel. Não ganharão um tostão. Há pior: vão desembolsar US$ 958 por duas semanas de batente. Fora os gastos extras. Insisto: pagarão para trabalhar. E ainda terão de aguentar uma catequese ideológica. Ah, por que tanta solidariedade a Cuba? Por que esta devoção jucunda a Fidel? Por quê? Vamos e venhamos, temos solidariedades mais urgentes. Há, aqui mesmo, a roçar-nos o nariz, todo um Brasil para ser feito. É curioso que, exaustos da própria ociosidade, jovens brasileiros prefiram fazer Cuba. Aqui, não lavam uma louça em casa. Lá, esfalfam-se até a última gota de suor. O amor a Fidel cheira a naftalina. É estranho que o ditador de Havana conserve a seus pés tantos escravos ideológicos. Recorde-se que seus compatriotas fogem às pencas para Miami. Ora, se é colher laranjas o que desejam os nossos garotos, que rumem para Bebedouro. Lá, encontrarão bons e vastos pomares. Podem divertir-se a valer. Com uma vantagem: poderão embolsar alguns caraminguás. Texto Anterior: O LEGADO CONCRETISTA Próximo Texto: Os detalhes do diabo Índice |
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